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terça-feira, 2 de julho de 2013

A NOVA ORDEM SOCIAL (01)






Só com uma ardente paciência conquistaremos a esplêndida cidade que dará luz, justiça e dignidade a todos os homens. Pablo Neruda, Prêmio Nobel de Literatura



A

 imprensa escrita e falada tem publicado amiúde os movimentos populares de greve, sublevação e revolta registrados em vários lugares. Estas lamentáveis ocorrências comprovam que o assoberbante problema social de todos os tempos se agravou em nossos dias, constituindo um desafio à sagacidade dos estadistas, políticos e sociólogos.



Verifica-se em nosso século uma revolução social sem paralelo na história do mundo. O chamado "laissez-faire, laissez-passer" que o mundo recebeu tão festivamente como a fórmula ideal para a solução dos grandes problemas econômicos, apenas agravou o mal-estar do organismo social. 

 

O que vemos em nossos dias, apesar do decantado progresso da civilização, é a fome, a miséria e o infortúnio contrastando paradoxalmente com o luxo, o fausto e a riqueza dissipadora, desalmada, insensível e egoísta, que prefere destruir aquilo que falta aos outros ao invés de dar ou vender. Queima-se o trigo, lança-se o açúcar ao mar, derrama-se o leite nos esgotos, no esforço por manter os preços inflados, enquanto milhões padecem à mingua, sem um pedaço de pão, e milhões vegetam sem o necessário indispensável para um nível de decoro e saúde.



Evidentemente, a vida econômica está organizada para favorecer os lucros exorbitantes, ampliando o abismo que separa as minorias privilegiadas das enormes massas que nada possuem. Eis, pois, a situação injusta a que nos levou o classicismo econômico: uma imensa riqueza que se ostenta escarnecedora no meio da fome, pauperismo e miséria.



Tendo em vista reparar os "males sociais", erguem-se os grandes movimentos de reforma. Assistimos mesmo a uma febril eclosão de idéias e doutrinas, todas elas pretendendo resolver o inquietante desajustamento social que aflige o mundo.



O que se pretende e o que se aspira é estabelecer as bases para uma sociedade futura onde não haja mais a miséria de permeio com a fartura, e onde uns não morram de fome enquanto outros nadam na opulência e no esplendor. 




Essa sociedade ideal, entretanto, tem sido a aspiração encantada, o sonho dourado do homem através de todos os tempos, na ânsia incontida de atingir uma organização social melhor, onde a liberdade e a justiça social possam coexistir.



Já na antiguidade clássica, Platão (427-347 AC), festejado mestre do pensamento helênico, preconizava em sua República uma sociedade que cria ser superior, tendo como fundamento uma complexa organização socialista, singularmente moderada.



O sistema, entretanto, passou à História como uma ingênua utopia, concebida por uma mente criativa perdida nos labirintos da fantasia.



ILUSÕES UTÓPICAS




A Platão, através da História seguiram-se inúmeros outros idealistas que, revoltados contra as desigualdades sociais, pretenderam estabelecer sistemas igualitários que trouxessem ao homem um completo bem-estar social. Destacamos, entre outros, Tomas Morus (1478-1535), conhecido humanista inglês, que, combatendo as instituições, a política e os costumes da Inglaterra no século XVI, destacou as virtudes do comunismo econômico e igualitário. Semelhantemente, Tommaso Campanela (1568-1639), utopista italiano, em seu conhecido livro Cidade do Sol, combatendo os processos então vigentes, esboçou o programa que, no seu entender, tornaria o mundo mais venturoso e próspero.



Saint-Simon (1760-1825), Robert Owens (1771-1858), Charles Fourier (1772-1837), Louis Blanc (1811-1882) e outros animados por nobres propósitos, pensaram igualmente em reformar aquilo que julgavam injusto na vida em sociedade. Neste esforço, pregaram a justiça social, baseados nos direitos de igualdade e liberdade. Entretanto, cumpre observar, todos passaram à posteridade como conhecidos utopistas humanitários.



Seus princípios e ideais, embora generosos, esbarraram no egoísmo humano e se fragmentaram. Mas as idéias reformistas não sofreram solução de continuidade. 




Elas continuaram e continuam cada vez mais febricitantes representadas nos modernos e multiformes "ismos":



trabalhismo, socialismo, comunismo, capitalismo, liberalismo, cooperativismo, radicalismo, anarquismo, conservantismo e seus inúmeros congêneres. Esta significativa profusão de doutrinas e dialéticas traduz o ingente e desesperado esforço humano visando alcançar uma nova ordem social mais justa e melhor.

O FILÓSOFO

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