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quinta-feira, 11 de julho de 2013

PSICOSE DA INFORMAÇÃO 01




Este texto é uma reflexão sobre a neutralidade e sua presença na mídia, receptor e emissor e na opinião pública. Inicialmente concentramos nossos argumentos sobre as categorias de arbitrariedade e a temporalidade, que ocupam o imaginário-simbólico e são fundamentais na a produção do mito e por isto mesmo são opostas a neutralidade. A rigor, os conceitos psicanalíticos que tratam da questão da neutralidade a consideram como uma recomendação técnica, justificada, para a clínica. Apesar disto nos estudos freudianos o autor propõe a presença da neutralidade no humor mas sua ausência para o estudo de grupos. Finalmente abordamos uma das teorias da opinião pública que considera que os aspectos latentes e manifestos estão presentes nessa manifestação de grupo e conseqüentemente opinião pública neutra não representa nada.

Palavras-chave: neutralidade, imaginário, opinião pública.

Há uma relação determinada entre as questões da privacidade na mídia e a neutralidade. Diríamos que esta relação se refere a uma posição ética, do jornalista, ou de quem produz a notícia, e à maneira como a sociedade, a quem ele se dirige, responde.

A privacidade exigida vai perdurar durante o tempo de discrição necessário ao emissor, diante do conteúdo a ser noticiado. No caso da neutralidade, é diferente porque quem relata precisa estar muito atentos para não envolver sua percepção ou conteúdos inconscientes presentes em sua redação.

O que despertou nossa curiosidade para a reflexão sobre o tema da neutralidade foi, principalmente, a máxima que diz: 

 
“O jornalista deve ser neutro”.

Recentemente, deparei-me com a frase as idéias não são neutras, imediatamente me questionei sobre o que significava esta frase e me questionei sobre os textos.

O que quer dizer idéias neutras?

Quer dizer idéias frias, isoladas, ausentes, sem compromissos político-sociais, pouco verdadeiras, técnicas, numéricas?

Inicialmente, gostaria de me reportar aos estudos da mitologia que provocam, no pensamento, conseqüentemente nas idéias fendas suturadas ora, pelo imaginário ora, por outras categorias que, aos poucos, iremos desenvolver ao curso do texto.

Explico melhor: o pensamento mitológico-simbólico reproduz a profunda estrutura do sistema social, camuflando, por um lado, o jogo das pulsões e dos instintos que são reprimidos, coletivamente e, por outro, os expõe. Este jogo de esconde-esconde é tão mascarado, tão, perfeitamente, dissimulado que o olhar crítico do estudioso das ciências humanas ou, mais precisamente, a experiência analítica do pensamento não pode dar conta de todas as categorias psico-sociológicas.

A arbitrariedade, condição essencial do mito e categoria ausente da neutralidade, além de ser um fator mitológico determinante, faz parte das imagens que o compõe.

Estes caminhos, as forças sobre-humanas destes heróis manifestantes, os caminhos estranhos que têm a percorrer são, todos, anti-racionais. Imaginar a luta de Perseu contra a Medusa e seu escudo mágico e protetor que ele carregava consigo, leva-nos ao misto do pensamento imaginário, antinatural e fictício. Poder-se-ia dizer até que o mito foi criado para estes heróis que saem as ruas manifestar por seus ideais, isto mesmo.



Registrar o terrífico da realidade, sobretudo, quando dentro dela estão as pulsões , sejam elas quais forem, agressivas ou sexuais, ameaçando, vir à tona, seja em qual for à situação. Qualquer absurdo pode ser previsto como factível porque, seguindo as mesmas características dos contos de fada e dos mitos, não há a mínima necessidade de serem comprovados porque, além de serem arbitrários, podem ser inverossímeis por serem imaginários.

Se, Don Quixote necessitava lutar contra os moinhos de ventos, em suas noites de insônia, necessitava, também, refletir sobre a rota que deveria seguir com Sancho Pança. O mito, também, está próximo da obra literária. O mito de Perseu está para o individual, assim como, o personagem de Don Quixote está para o manifestante.

O que vai diferenciá-los será a possibilidade de praticar a arbitrariedade de mostrar-se onipotente ou as exigências decorrentes de cada um deles.

Desta lógica imprecisa, que é a lógica do imaginário nascem as áreas, tão díspares, como a semiótica, a lingüística ou a psicanálise que reivindicaram um autêntico corte epistemológico, dentro das ciências sociais. Para estudo da Comunicação e da Informação caracterizar essa nova área de, a maioria dos autores separa comunicação interpessoal de comunicação de massa, distinção esta que provoca uma série de equívocos, porque associa a primeira, sempre à psicologia geral (comunicação interpessoal) enquanto deixa os estudos da comunicação de massa, com o estatuto definido e relacionado aos estudos da técnica e das Teorias da comunicação propriamente dita. Algumas categorias da psicologia social poderiam auxiliar estes estudos.

Com efeito, sempre houve na comunicação de massa, uma atmosfera que privilegia a expressão das ações latentes e subjacentes (por que não dizer, inconscientes?), cuja interpretação técnica exerce grande influência sobre o pensamento dos profissionais da área. Por vezes, a explicação de um psicanalista sobre determinado evento social foi fundamental para a sua compreensão pelos consumidores da informação – e, do espetáculo. Pior, ainda: algumas vezes, justificaram ou explicaram eventos, sem sentido maior, como crimes ou violência social. 


Felizmente, a mídia até mesmo o JORNALISMO CIDADÃO - em especial, o jornalismo - está mais atenta às fontes de informação. Hoje, seus agentes procuram, com mais freqüência, a opinião de especialistas e sabem distinguir pensamento técnico e neutro, de pensamento sensacionalista e comprometido.

Muitas pesquisas em comunicação dispõem de conceitos da psicanálise, como ferramentas relevantes e, abordam os aspectos ideais intrínsecos à comunicação de maneira generalizada, incluindo as análises de conteúdo das mensagens. O mesmo ocorre em suas formas de criação e difusão, mostrando-se como é grande o campo das análises dos efeitos intencionais (conscientes) e não-intencionais (inconscientes), na mídia.

“Esta convicção, não estamos sós, pois Blanca Muñoz acrescenta que definitivamente, as crenças morais, as categorias do pensamento coletivo, a ideologia, os comportamentos religiosos (...), se explicam em estreita interdependência nas constantes comunicativas”.
(MUNOZ:1995:39).

A linguagem é o que impede que tudo signifique a cada instante e que tudo tenha sentido.

O caráter de ilusão da linguagem, de manifestação do inconsciente, provoca sua falha conseqüentemente sua função poética. Até os números podem ser negativos, positivos e neutros. Daí podermos tirar a lição que nem a matemática é somente neutra, quanto mais quem que lida com as palavras, relata fatos ocorridos, fatos ocorrendo no presente ou aqueles que ocorrerão no futuro.

O que significa dizer que a mais alta definição de neutro corresponde à mais baixa definição de subjetividade.

Isto é, estaríamos diante da psicose, do pensamento concreto, isolado, autista, egocêntrico. Surge, então, um outro fator relevante a partir da valorização da informação dos fatos que é a informação do espetáculo, onde o princípio de neutralidade desaparece da mídia porque ela está obrigada a expor todos os pontos de vista, informando tudo ao público, a partir de idéias pré-elaboradas, pré-concebidas, sem espaço para que ele, o público, forme sua opinião. Há uma sutileza, neste movimento mediático porque a informação passa a ser uma mercadoria e, sob estas condições, oferece condição de negociação gerando a ambigüidade:

Ser neutro ou ser sensacionalista.

Um dos exemplos (mesmo que horrível), mais claros, das contradições entre a neutralidade e o sensacionalismo tem sido viabilizado pela televisão nos modelos dos Reality shows > A televisão, que abusa das imagens grotescas, chocantes, dos escândalos, da violência exacerbada, produzindo uma vida cotidiana hiper-realista e emocionante. Recentemente, a televisão brasileira apresentou um quadro que deixou o público fascinado, o programa intitulado Big Brother: nele, doze pessoas concentradas numa casa durante 48 dias, mostravam suas peculiaridades e por elas eram provocadas. O público com o poder do voto e de depoimentos decidia quem ficava ou quem saia do programa. Evidente que o ganhador foi aquele que melhor expressou as contradições da opinião do público. 
 
Sigmund Freud
Neutralidade na psicanálise e o instinto gregário.

Nos estudos psicanalíticos de Sigmund Freud, o conceito de neutralidade surge a partir da separação dos métodos de sugestão que aprisionavam o terapeuta para a evolução da criação da técnica da psicanálise. Ele é proposto, como uma qualidade que o analista deve ter, em três momentos:

“Neutralidade é uma qualidade que define a atitude do analista durante a cura. O analista deve ser neutro enquanto os valores morais e sociais isto é, não dirigir a cura em função de um ideal qualquer, e abster-se de todo conselho, neutro com respeito às manifestações transferências o que habitualmente se expressa através da fórmula “não entrar no jogo do paciente”; e por último, neutro enquanto ao discurso do analisado, isto é, não conceber a priori uma importância preferente a um determinado fragmento ou a um determinado tipo de significações”.
(LAPLANCHE, PONTALIS: 1971:. 266) .

Fica claro nesta definição que a neutralidade é uma recomendação técnica específica para o atendimento clínico. E, nem é de longe semelhante a “neutralidade benevolente”, considerada, na linguagem diplomática, como aquela que nos leva a conduzir pensamento e comportamento, para um manejo conveniente de situações delicadas e também não auxilia à reflexão do possível pensamento neutro do jornalismo, porque aqui trata-se de comportamento técnico.

Interessante é registrar a observação de Freud sobre os chistes e a neutralidade. Freud nos lembra de Shakespeare em um verso de Love ́s Labour ́s, v 2, que diz:

“A fortuna de um gracejo reside no ouvido. De quem o escuta, nunca na língua de quem o faz”.
(SHAKESPEARE apud FREUD)

(continuaremos este artigo amanhã)
                                                                     
O FILÓSOFO

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