Irrompem inelutavelmente, então, as dificuldades relacionadas às respostas para indagações sobre o papel, a função, bem como sobre a eficácia da educação no desenvolvimento das habilidades necessárias à participação nesse novo tipo de sociedade. E mais, a direção seguida pelo desenvolvimento do conhecimento, no contexto da primazia sobre a Filosofia que a mentalidade positivista concedera à Ciência, orientou a pesquisa dos fenômenos educacionais, cada vez mais, para o conhecimento positivo das funções intelectuais e dos mecanismos da aprendizagem num quadro estritamente bio-psicológico – como vimos no passo analítico anterior – além do que, a pesquisa dos fenômenos políticos também se orientou para o conhecimento positivo, para um enquadramento estatístico-funcional dos atos pelos quais as ações de um indivíduo afetavam as ações de outro indivíduo no âmbito das relações civis e no âmbito das relações entre o Cidadão e o poder político do Estado. Nesse contexto, a Educação e a Política passaram a revelar áreas de encontro, e isso, ao lado das perguntas surgidas com a abordagem científica dos problemas educacionais, acrescentou problematicidade às interações entre esses dois âmbitos da ação humana. O problema passou a demandar um novo equacionamento e novas soluções, uma vez que, nem Educação, nem Política, estariam mais subordinadas a um âmbito superior transcendente a partir do qual se definiria a inteligibilidade do político e do educacional, bem como a decifrabilidade de suas inter-relações.
Ora, a solução brasileira, a partir da assunção da
forma republicana pelo Estado no Brasil, seguiu a influência do modelo
estabelecido pelas revoluções burguesas, isto é, a fórmula da separação entre
Educação e Política, modelo análogo ao da fórmula proto-moderna do maquiavelismo,
que separara Ética de Política. Esse modelo é análogo ao
da fórmula liberal que procurara afastar a reflexão econômica da reflexão ética
carregada de marcas metafísicas do pensamento cristão não reformado. É pois um
modelo consentâneo com a mentalidade positiva e racional em voga em fins do
século XIX e início do século XX e ainda no século XXl sofremos a intervenção de
educadores que não deveria
combinar política e educação pois não se compatibilizam.
Neles se encontram, entre outros, três princípios
capitais que se interligam:
O que distingue Instrução de Educação, atribuindo a
primeira à Escola e a segunda à Família, porem nós temos absoluta certeza que
em primeiro lugar deve se priorizar a família, uma família
bem assistida é sinônimo de educação
resolvida, o que preconiza uma instrução que difunda apenas conhecimentos e não
opiniões, e, por último, aqueles que insiste na instrução independente como
direito humano.
Essas idéias forneceram a base para a
posição segundo a qual, não só a análise dos problemas educacionais, mas também
as práticas educativas deveriam guardar distância da disputa política, uma vez
que a Educação diria respeito aos direitos civis e não aos direitos
políticos.
Pois, para os modernos, e particularmente para uma
vertente do Liberalismo nascente nos séculos XVIII e XIX, a cidadania diz
respeito à fruição das liberdades individuais e privadas na Sociedade Civil,
sob a égide da Lei, que deve proteger os direitos de cada um no contexto da
inelutável conflitividade da vida social, e não às liberdades na Sociedade
Política.
Ao Brasil, nesse tempo, já chegavam, e cada vez
mais intensamente, a partir dos primeiros surtos importantes de
industrialização em 1870, os ecos dessa discussão.
E aqui será hegemônica, por quase um século, a
solução liberal que procura destacar Política em meio da Educação.
Por outro lado, em direção ao Brasil, há também a
fluência de toda uma corrente de idéias cuja matriz é o Marxismo,
manancial quase exclusivo da crítica às doutrinas liberais, pelo menos da
crítica ao Liberalismo fundada em premissas modernas. E ainda o influxo de idéias
que, de uma forma ou outra, se relacionavam com ele, e ou faziam parte da
perspectiva crítica européia, que se distingue claramente da perspectiva
pragmática e instrumental-funcionalista estadunidense.
Além, obviamente, da influência não salutar
da igreja católica de todos os matizes, posto que não se pode compreender a
história, seja do Brasil, seja da Educação brasileira, sem levar em conta a
ação da inquisição da Igreja Católica entre nós, mesmo na fase
republicana. Entrementes, quanto a essas duas matrizes devemos fazer algumas
observações.
O Marxismo não exprime um juízo único frente
ao problema das relações entre Educação e Política. Se nos
reportarmos aos poucos textos nos quais KARL
MARX se refere explicitamente ao
assunto notaremos coincidências entre seus juízos acerca dessa questão e as
posições típicas do pensamento burguês revolucionário na França. Já se nos
reportamos a ANTÔNIO GRAMSCI
teremos, dessa questão, um equacionamento diferenciado, decorrente da
conceituação gramsciana da sociedade política, da sociedade civil, e das
relações entre esta e aquela.
Mas a inflexão mais forte está no Leninismo.
Com efeito, a concepção de Estado e a teoria política desenvolvidas por LÊNIN, bem como sua concepção de
Socialismo, de ditadura do proletariado como momento de transição entre
a sociedade socialista e a sociedade comunista, e do papel vanguardista e
educativo do proletariado frente às outras classes sociais, além da
opção por um partido de representação, levaram a uma tal aproximação entre ação
educativa e práxis revolucionária, entre função pedagógica e
usurpam na função política, que a principal inspiração da formulação da tese da
inseparabilidade entre Educação e Política veio exatamente do Leninismo,
embora não devamos deixar de lado as advertências leninistas quanto a
uma imprópria ou equivocada compreensão das relações entre Educação
e Política.
Como se não bastasse, LÊNIN substituiu a dialética platônica ascendente da Razão,
praticada por aquele que o processo educativo revelou ter uma alma de ouro, por
uma dialética da práxis revolucionária, realizada por
aquele cuja missão histórica o partido vislumbrara.
Entre as diversas interpretações marxistas, a
variação das posições acerca do problema das relações entre Educação e Política
guarda uma certa correspondência com os diversos equacionamentos que cada
vertente faz dos temas da liberdade individual, das relações do indivíduo com o
Estado, da cidadania. E o mais curioso aí é a constatação de que, entre esses
diversos equacionamentos, incluindo a do próprio MARX, quanto mais matizada, quanto mais dialética é a
abordagem dos problemas característicos da relação entre o indivíduo e o
Estado, e quanto mais sutil e refinada é a crítica ao pensamento político e ao
pensamento econômico liberais, tanto mais o equacionamento do problema das
relações entre Educação e Política fica próximo daquele que se
tornou vitorioso segundo o modelo das revoluções liberais burguesas, isto é o
modelo da distinção clara entre Educação e Política.
O FILÓSOFO,
POETA,
ESCRITOR,
Dr. EM TEOLOGIA,
ASTROFÍSICO ESTELAR,
ARBITRO DE DIREITO,
JUIZ DE PAZ.
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