Só com uma ardente
paciência conquistaremos a esplêndida cidade que dará luz, justiça e dignidade
a todos os homens. – Pablo
Neruda, Prêmio Nobel de Literatura
A
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imprensa escrita e falada tem publicado amiúde
os movimentos populares de greve, sublevação e revolta registrados em vários
lugares. Estas lamentáveis ocorrências comprovam que o assoberbante problema
social de todos os tempos se agravou em nossos dias, constituindo um desafio à
sagacidade dos estadistas, políticos e sociólogos.
Verifica-se em nosso século uma
revolução social sem paralelo na história do mundo. O chamado "laissez-faire,
laissez-passer"
que o mundo recebeu tão festivamente como a fórmula ideal para a solução dos
grandes problemas econômicos, apenas agravou o mal-estar do organismo social.
O que vemos em nossos dias, apesar
do decantado progresso da civilização, é a fome, a miséria e o infortúnio
contrastando paradoxalmente com o luxo, o fausto e a riqueza dissipadora,
desalmada, insensível e egoísta, que prefere destruir aquilo que falta aos
outros ao invés de dar ou vender. Queima-se o trigo, lança-se o açúcar ao mar,
derrama-se o leite nos esgotos, no esforço por manter os preços inflados,
enquanto milhões padecem à mingua, sem um pedaço de pão, e milhões vegetam sem
o necessário indispensável para um nível de decoro e saúde.
Evidentemente, a vida econômica
está organizada para favorecer os lucros exorbitantes, ampliando o abismo que
separa as minorias privilegiadas das enormes massas que nada possuem. Eis,
pois, a situação injusta a que nos levou o classicismo econômico: uma imensa
riqueza que se ostenta escarnecedora no meio da fome, pauperismo e miséria.
Tendo em vista reparar os
"males sociais", erguem-se os grandes movimentos de reforma.
Assistimos mesmo a uma febril eclosão de idéias e doutrinas, todas elas
pretendendo resolver o inquietante desajustamento social que aflige o mundo.
O que se pretende e o que se
aspira é estabelecer as bases para uma sociedade futura onde não haja mais a
miséria de permeio com a fartura, e onde uns não morram de fome enquanto outros
nadam na opulência e no esplendor.
Essa sociedade ideal, entretanto,
tem sido a aspiração encantada, o sonho dourado do homem através de todos os
tempos, na ânsia incontida de atingir uma organização social melhor, onde a
liberdade e a justiça social possam coexistir.
Já na antiguidade clássica, Platão
(427-347 AC), festejado mestre do pensamento helênico, preconizava em sua República uma sociedade que cria ser
superior, tendo como fundamento uma complexa organização socialista, singularmente
moderada.
O sistema, entretanto, passou à
História como uma ingênua utopia, concebida por uma mente criativa perdida nos
labirintos da fantasia.
ILUSÕES UTÓPICAS
A Platão, através da História
seguiram-se inúmeros outros idealistas que, revoltados contra as desigualdades
sociais, pretenderam estabelecer sistemas igualitários que trouxessem ao homem
um completo bem-estar social. Destacamos, entre outros, Tomas Morus
(1478-1535), conhecido humanista inglês, que, combatendo as instituições, a
política e os costumes da Inglaterra no século XVI, destacou as virtudes do
comunismo econômico e igualitário. Semelhantemente, Tommaso
Campanela
(1568-1639), utopista italiano, em seu conhecido livro Cidade do Sol, combatendo os processos então vigentes, esboçou o
programa que, no seu entender, tornaria o mundo mais venturoso e próspero.
Saint-Simon (1760-1825), Robert Owens
(1771-1858), Charles Fourier (1772-1837), Louis Blanc (1811-1882) e outros animados por
nobres propósitos, pensaram igualmente em reformar aquilo que julgavam injusto
na vida em sociedade. Neste esforço, pregaram a justiça social, baseados nos
direitos de igualdade e liberdade. Entretanto, cumpre observar, todos passaram
à posteridade como conhecidos utopistas humanitários.
Seus princípios e ideais, embora
generosos, esbarraram no egoísmo humano e se fragmentaram. Mas as idéias
reformistas não sofreram solução de continuidade.
Elas continuaram e continuam cada
vez mais febricitantes representadas nos modernos e multiformes
"ismos":
trabalhismo, socialismo,
comunismo, capitalismo, liberalismo, cooperativismo, radicalismo, anarquismo,
conservantismo e seus inúmeros congêneres. Esta significativa profusão de
doutrinas e dialéticas traduz o ingente e desesperado esforço humano visando
alcançar uma nova ordem social mais justa e melhor.
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