Vivemos hoje
uma doença interna que desestrutura e desagrega o aparelho psíquico brasileiro.
O Brasil
Nascemos de uma necessidade de nossos
pais, os quais, diante de uma situação interna complicada, terras mal
aproveitadas e não produtivas na agricultura, crise de desvalorização da moeda
e escassez de metais preciosos, precisavam buscar novas alternativas para
manterem-se no status de Estado Nacional forte.
Nossa gestação dura cerca de trinta anos e
nos desenvolvemos no útero de uma mãe, a coroa portuguesa, perversa e
exploradora. É um desenvolvimento ao avesso, no qual não nidamos, mas em nós, a
mãe se nidou através do extrativismo vegetal do pau Brasil e exploração da mão
de obra indígena baseada no escambo.
Gratificamos nossos pais com o lucro de
nossas riquezas, durante a gestação, e desde a fecundação, sentimo-nos como
filho rejeitado, rapidamente trocado pela exploração de outros filhos, dos
quais é explorado especiarias asiáticas, ouro, marfim, além do escravo negro.
O pré-colonialismo é a gestação da angústia,
onde nós, o feto, vivenciamos precocemente o medo do abandono e a fragilização
imposta pelos abusos parentais.
Nosso nascimento ocorre pela necessidade
de ter e criar um filho forte, capaz de sustentar e prover os pais nos seus
momentos de dificuldades.
Desde a tenra infância, já temos a noção
de que não somos um filho amado, apenas um filho útil. Como nas etapas iniciais
da vida, a simbolização ainda não evoluiu e a incorporação necessita de um
elemento concreto, fomos submetidos a uma incorporação, também às avessas, onde
associamos descaso e exploração a afeto, importância e valorização. Tal
aprendizado marcará o curso do nosso desenvolvimento, se repetindo inúmeras
vezes.
Talvez,
isto explique a razão de votarmos em políticos corruptos e que nada fazem por
seus representados.
Ao olharmos as nossas primeiras relações objetais
nos daremos conta de que tudo que aprendemos com nossos pais envolve a
exploração, corrupção e a posse desmedida dos pertences alheios, gerando desde
então, um profundo sentimento de que existimos para sermos desvalorizados.
Explica-se assim, a razão de continuarmos aquém do desenvolvimento,
subdesenvolvidos, apesar de tantos recursos e riquezas.
E assim vivemos uma infância permeada pelo
abuso, pela constante exploração e obediência cega, gerando uma significativa
redução na auto-estima e reprimindo tudo aquilo que nos chama a nossa
identidade.
Segundo Freud, nosso id é o depositário da
nossa história, onde todo desejo se origina, onde o imaginário é a única
realidade possível, atemporal e inconsciente na sua totalidade, detentor da
produção de imagens e desconhece a verbalização.
Criativo como o id é o povo de uma nação,
um povo que, independente de suas gerações e do tempo, traz no seu
comportamento e postura a história pregressa, é a força instintiva que clama
por satisfação de suas necessidades e desejos aos governantes.
Só
é capaz de verbalizar ativamente quando representado por seus eleitos.
Analogicamente, o povo é o id de uma
nação, é a nação em si, é o primitivo que primeiro surge, antes de qualquer
organização social e hierárquica.
Do id origina-se o ego, assim como do
povo, nascem os governantes, os quais deveriam atender da melhor forma
possível, os desejos do povo, adequando-os às leis e a política do país. Aos
governantes é atribuído a motilidade de um município, de um estado, de um país;
o transitar de níveis inferiores à superiores; são a representação e a síntese
de um povo.
Ao Ego Freudiano é atribuída a satisfação
dos desejos do id, adequando-os a realidade; detentor da capacidade de síntese
e da motilidade, sede das angústias e em parte, inconsciente, repressor e
defensor da estrutura psíquica.
Vivemos ainda sob a égide de um superego
ameaçador, que nos organiza segundo as leis e poderes do judiciário.
O equilíbrio e saúde psíquica é o resultado
de uma interação adequada do id, ego e superego, da mesma forma que a saúde de
uma nação é o resultado de uma interação adequada do povo, seus representantes
e suas leis, dentro de uma realidade global.
Quando não há a suposta interação adequada
das instâncias psíquicas, adoecemos neurotizamos, psicotizamos ou nos
exterminamos na delinqüência.
O Brasil vai para o divã e sua análise é
permeada de resistências, projeções, negações e toda sorte de mecanismos de
defesas possíveis.
O Brasil está doente, precisa reler a sua
história para elaborar. Ao interpretarmos sua destrutividade, possibilitamos
clarificar o que hoje é obscuro.
Diante de uma infância conturbada, nosso
id é formado por duplas mensagens, ambíguo. Nossos pais nos ensinaram os
ofícios do dominado, mas exerciam o papel de dominadores; incutiram-nos seus
valores e tradições e reprimiram qualquer possibilidade de expressão da nossa
identidade. Sob rígidos valores, aprendemos a servir nosso pai e nossa mãe; o
imperador e a coroa portuguesa que valorizavam nossos atributos de acordo com
suas conveniências.
A força do nosso reprimido foi
enfraquecida pelos constantes impostos devidos à coroa, pela posse desmedida e
ilícita de nossas riquezas.
A possibilidade de independência nasce das
constantes frustrações e limitações impostas ao nosso id. Assim começam os
vestígios de formação do Ego, devidamente consolidado às margens do riacho do
Ipiranga e do rio Jenipapo.
Nosso ego tem nome: república, e já nasce
desestruturado oriundo de um id enfraquecido.
E assim, o Brasil procura o divã e sua
queixa é a angústia e desconforto consigo mesmo. Já não consegue esconder e
superar sozinho. Não consegue vislumbrar causas para seus sintomas.
Filho de pais abusivos, desde a mais tenra
infância foi submetido à violência física e psíquica. Tiraram do seu seio, suas
riquezas; ouro e pau Brasil para o uso da mãe, como forma explícita de
violência física à alguém que não pode se defender. Sua auto-estima foi
construída no papel de dominado, subjugado. Sua única gratificação era a culpa.
As crianças abusadas passam a acreditar
que um pai abusivo é melhor do que nenhum e buscarão repetir esse padrão nos
relacionamentos futuros. Entre a culpa e auto-estima baixa, o Brasil sempre
construiu parcerias com países fortes que supostamente alavancariam o seu desenvolvimento,
mas que, como seus pais, estavam sempre prontos a submetê-lo, a dominá-lo, a
exemplo da Amazônia, onde muito já não nos pertence. O uso dos seus próprios
recursos lhe foi reprimido e tirado mais uma vez.
No divã, o discurso do Brasil delata a sua identidade frágil. Pertence a América, é parte de uma América, mas seu povo não é Americano. Apossaram até mesmo do seu nome de origem: Brasil da América, Brasil Americano.
Cresceu permitindo todo tipo de abuso,
categorizado como subdesenvolvido. Sob promessas de futuro e emprego, suas
mulheres são usadas como objetos sexuais nos domínios dos “parceiros”
desenvolvidos.
Mas, hoje no divã, a patologia não reside na construção de relações objetais, mas na dinâmica interna que o angustia.
Um id reprimido representado por seu povo, onde o imaginário recria incessantemente a fantasia de liberdade, de dignidade e de respeito.
Um Ego cindido, na figura do presidente
Lula, da presidente Dilma cego à sua própria fragilidade, escondendo sua falta
de controle e de governo, cujo principal mecanismo de defesa é a negação e o
isolamento; nega a corrupção na sua entranha, nega a sordidez do poder, nega o
poder do id ao negar o desejo do povo.
O povo esta pedindo reforma, reforma na
saúde, reforma na educação, reforma na segurança, no transporte, nas rodovias,
nos impostos abusivos, em resposta o governa manda uma proposta de reforma política
com propostas que elenca somente os interesses do governo e o povo? E as
manifestações? Nada valeu, só resta vandalismo e morte. Cadê os anseios do
povo? Volto a repetir o governo cego à sua própria fragilidade, escondendo sua
falta de controle e de governo, cujo principal mecanismo de defesa é a negação
e o isolamento; nega a corrupção na sua entranha, nega a sordidez do poder,
nega o poder do id ao negar o desejo do povo.
Vive pregando a democracia num território
de voto eleitoral obrigatório. O voto é a sua projeção. Alguém escolheu! Alguém
votou! Alguém quis assim! O problema não sou eu!
Na sua angústia neurótica, o ego tenta
fragilizar o id para que este não o invada.
Criam impostos, cria barreiras, cria
formas de tirar o poder do povo, para que este não tenha força e, portanto não
o vença.
Se não houvesse a consciência do presidente, se o Ego desconhecesse aquilo que não quer reconhecer e integrar, certamente o diagnóstico seria um Transtorno de Personalidade Múltipla, revelado pela existência de um alter ego que discursa nas tribunas dos parceiros com (pseudo?) confiança e (pseudo?) poder, mas que esconde um lado oposto permeado pela impotência de controlar seus ministros e seu partido político.
Do Superego: a lei e o judiciário, pouco
há a dizer, apenas revela agora, sem máscaras, o que lhe foi amplamente
introjetado pela relação objetal primária com os pais. A falsa contenção
superegóica cedeu lugar para a injustiça e desonestidade verdadeira, para a
impunidade que privilegia a si próprio e os seus comparsas.
Sem máscaras, abriu caminho para a delinquência que revela o caráter frágil da homeostase psíquica do Brasil.
É preciso muito tempo de análise para
promover a auto-estima e crescimento do Brasil. Mais do que isto: o Brasil
precisa querer curar-se.
O FILÓSOFO
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