Depois dos árabe, Depois da Europa, agora é a vez do Brasil
experimentar um novo tipo de ativismo político e social. O movimento popular
que ressurge no país é alimentado por uma das ferramentas mais usadas pelos
contemporâneos:
As redes sociais
O irrequieto espírito do tempo, o Zeitgeist, para usarmos um conceito do
filósofo alemão Hegel, a quem se atribui também a invenção da palavra
“modernidade”, está solto no Brasil. Está se manifestando nas ruas das cidades
numa onda de protestos, cuja marca registrada é o “contra”:
contra o preço da passagem de ônibus,
contra a PEC 37, contra a cura gay, contra a política do governo federal,
estadual e municipal. Para o povo brasileiro não falta criatividade, quando se
trata de sair às ruas e protestar. Caras pintadas ou não, cartazes, flores,
faixas. Mas, não há bandeiras. Estas são coisas do século passado, coisa da
modernidade que está com seus dias contados.
Pois ao lado dessa criatividade, desse
êxtase quase que erótica do “estado de exceção”, como Giorgio Agamben descreve
esse vácuo do poder, quando o povo está na rua e os governantes estão
perplexos, é a violência, expressão cega, surda e muda de algo assustador que agora
também vem à tona. Eros e, as pulsões da vida e da morte, estão caminhando lado
a lado. O desejo errante está solto, sem direção nem palavra, e até o símbolo
mais marcante da modernidade, a bandeira nacional, vira manta de proteção
contra chuva e cacetadas policiais.
Observamos em nossas ruas as conseqüências
da grande onda de manifestações estudantis que, no ano de 1968 sacudiram o
mundo desde Paris até Berkeley, desde Frankfurt até Praga, desde a Cidade do
México até o Rio de Janeiro e São Paulo. À frente do movimento estava pessoas
que, angustiada com um mundo em crise, realizou o início de uma profunda
desconstrução dos costumes que já tinha dado seus sinais na arte,
principalmente, no rock´n roll. Questionava as instituições orientadas na
figura paterna: a empresa capitalista fordista, o Estado paternalista e muitas
vezes autoritário e, principalmente, a família patriarcal que não dava espaço
para o desejo de emancipação das mulheres. Iniciou assim a desconstrução que
ainda não terminou.
De lá para cá, o Muro de Berlim caiu e
o Estado nacional cedeu soberania à da comunidade internacional. Empresas se
organizaram em redes empresariais. A família tradicional está morrendo, cedendo
a laços amorosos que, sem a necessária bênção do Estado ou da religião, se
criam e se desmancham. As redes de comunicação, por seu turno, interligam
empresas, Estados, clãns e amigos. Antes plataformas para trocar imagens de
festas e férias, as redes sociais tornaram-se palcos de manifestações políticas
e poderosos instrumentos para decidir a constelação do poder, só esperamos que
os eleitores deste município acorde na hora de votar 2014 esta chegando. Barack
Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos depois que sua candidatura se
tornou um “vírus” na rede.
Das redes para as ruas é um pulo. O
movimento brasileiro mobilizado pela internet não é exatamente uma novidade. O
mundo já viu movimentos semelhantes aos dos brasileiros nos países árabes, nos
Estados Unidos e na Europa sacudida pela crise econômica. No Brasil, não há
essa razão para a onda de protestos. Estão pipocando demandas que, se
atendidas, puxam outras tantas. O que querem então os manifestantes?
O atendimento de uma pauta de
reivindicações, o impeachment, o restabelecimento da ordem nacional, um “novo
mestre”, como diria Jacques Lacan?
A pós-modernidade apenas começou. O
que está em pauta é a existência não de um governo, mas do próprio Estado
moderno e da democracia representativa.
Partidos políticos, sindicatos,
organizações da sociedade civil não representam mais aqueles que encontram um
sem número de demandas diante da profusão de informações encontradas na
internet.
Você quer o que deseja?
É a questão do psicanalista Jorge
Forbes.
Como querer o novo?
Eis a questão.
Nessa busca do novo as respostas são
múltiplas. Pode haver, sim, uma resposta fundamentalista e autoritária, talvez
na figura do líder carismático que, na falta de um direcionamento, dê sentido
ao movimento. Essa seria a saída reacionária, aquela que procura fazer com que
a história volte para trás. Por outro lado, e isso seria mais plausível, está à
possibilidade da construção do poder político pela rede.
Há o esboço de um partido que até tem
esse nome e, não por um acaso, tem uma mulher à frente do projeto. Mas seria a
política em rede a saída para a crise de representatividade do espaço político
moderno?
O “novo mestre” mostra também aqui sua
cara.
Controlar a rede tornou-se, hoje, o
“sonho de poder” para falar com as palavras de Michel Foucault, da China até os
Estados Unidos. Será que a Matrix
tornar-se-á realidade?
Fazer política em rede vai ser o
desafio das próximas gerações que até agora dão mostras que, se não sabem
exatamente o que querem, sabem muito bem usar os recursos das redes sociais
para soltarem a voz. Falta ouvir.
O FILÓSOFO
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