“Vivemos numa época pós-heróica. Isso não
significa que no século XXI não se realizem ações heróicas; significa apenas
que tudo que se faz de bom, grande, corajoso e heróico, tudo que se cria de
belo e poético, é arrastado na correnteza da banalização e da
desindividualização, perdendo sua originalidade e sua força. O poder que
influencia fortemente a opinião pública e amesquinha todas as coisas é a alma
de lacaio.
O lacaio não conhece heróis. Ele não é, sobretudo, capaz de
reconhecê-los. O que caracteriza sua visão do mundo consiste no fato de que ela
reduz tudo à escala da banalidade. O ponto de vista do lacaio só lhe permite
enxergar motivações amesquinhadas, inveja, pequenas safadezas.
No tempo de Goethe e de Hegel, os
lacaios conheciam a intimidade dos seus patrões e por isso não podiam vê-los
como heróis; hoje em dia, contudo, o olhar dos lacaios se instalou na visão do
mundo dos patrões e dita normas de gosto e de moral: consome avidamente as
fofocas e as intrigas da imprensa falada e escrita, da boca pequena nos
meandros da vida e julga tudo com seus critérios frívolos e sumários.
Um segundo empecilho no caminho da possibilidade do trágico, no nosso tempo, está na banalização e na domesticação da morte. A morte perdeu o poder que tinha de abalar profundamente os seres humanos e é digerida com certa rapidez no dia-a-dia. A morte do outro, do próximo, não ameaça nos desestruturar: ela é quotidiana, superficial, pouco significativa.
"Ela nos chega no meio de múltiplas imagens, sucessivas
informações e sensações confusas; em seguida, desaparece, sem deixar traços".
E o lacaio hoje não vê mais o herói, não existe mais a poesia do
heróico e do trágico, ai tanto faz morrer como viver... Morrer é só morrer.
O FILÓSOFO
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