Pesquisa aponta
êxodo do catolicismo para outras igrejas cristãs. Especialista vê nova Reforma
Protestante
A multiplicação de igrejas evangélicas, que vêm
arrebatando fiéis de todas as religiões, principalmente da católica, é o
reflexo de uma segunda Reforma Protestante, analisa o antropólogo PETER HENRY
FRY, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ. Com base
em pesquisa do Instituto Gerp, divulgada com exclusividade pelo Jornal do
Brasil, o especialista compara a evasão do catolicismo ao movimento que
dividiu o cristianismo na Europa do século 16, num processo de adaptação à sociedade
capitalista. Segundo a pesquisa Gerp/JB, 20% dos cariocas trocaram de religião
recentemente. O catolicismo foi o credo que mais perdeu fiéis (56% dos que se
converteram), e as igrejas cristãs evangélicas, como a Assembléia de Deus, a
Universal do Reino de Deus e a Pentecostal, foram as que mais acolheram novos
seguidores. Outros dados reafirmam a tendência: dos evangélicos do Rio, quase
metade veio de outra crença. A maior parte (62%) era católica. Ainda assim, com
o peso de religião ''quase oficial'', o catolicismo mantém a adesão de 55% dos
moradores do Rio.
Um discurso distante dos anseios da
sociedade atual e uma abordagem voltada para valores coletivos - fraternidade,
cooperação, solidariedade - seriam os fatores responsáveis pela debandada da igreja
católica, acredita Peter Fry.
- A ideologia da igreja católica é
coletivista, enquanto as igrejas evangélicas enfatizam o indivíduo - analisa.
Com uma abordagem individual, a igreja
evangélica estaria mais conectada à sociedade de consumo. Templos semelhantes a
shopping centers recebem seguidores atraídos por líderes populares, que usam
linguagem próxima à realidade dos fiéis, sugerindo que a igreja é ''do povo''.
- Está havendo uma pequena revolução, uma
Reforma, como no século 16 - diz o antropólogo inglês que já morou em diversos
países, onde estudou os mais variados credos.
O discurso evangélico prega a capacidade
do indivíduo, junto com Deus, de superar problemas, explica Peter Fry.
- A idéia é dizer:
Os evangélicos falam do que ocorreu na
Europa há 500 anos:
Do sujeito autônomo, com o destino em suas
mãos. O discurso é condizente com a sociedade de consumo.
Presidente do Instituto Gerp, Gabriel
Pazos aponta o abandono pelo catolicismo de recursos de comunicação como um dos
fatores que o fizeram perder fiéis. A igreja católica, explica Pazos, foi
pioneira ao utilizar ferramentas de marketing. O primeiro departamento de
pesquisa foi o confessionário, analisa. O que o padre ouvia, apesar de não
poder ser revelado, dava-lhe informações sobre o que pensava a comunidade e
servia como base para os sermões. O primeiro cartaz foram as imagens de santos;
o primeiro logotipo, a cruz; o primeiro outdoor: a disposição da cruz no alto
da igreja. A igreja católica, acrescenta, foi a primeira entidade a ter uma
forma de comunicação de massa não verbal: o sino.
- As comunidades foram crescendo, e esses
meios deixaram de ser eficazes. Ao mesmo tempo, a igreja católica não se
utilizou da mídia impressa, do rádio nem da televisão. Só o Padre Marcelo Rossi
(que faz megashows de músicas e já lançou DVD) - lembra o presidente do Gerp.
O ''fenômeno Rossi'', lembra Pazos, é
recente.
- As igrejas protestantes, nos Estados
Unidos por exemplo, há mais de 30 já usam a TV para convocar seus fiéis. No
Brasil, o rádio e a TV fizeram as igrejas evangélicas explodirem.
- A igreja católica, ao longo dos anos
foi-se acomodando na maneira de se comunicar, deixou de exigir a presença dos
fiéis na igreja - diz.
Para ele, o surgimento da expressão
''católico praticante'' é sintomático.
- Católico é católico. A igreja foi-se
descuidando, admitindo que as pessoas se vissem protegidas mesmo não indo à
igreja - analisa.
Peter Fry tem outra explicação:
- A igreja católica, por mais que tenha
tentado ser popular, sempre foi oficial.
Embora o Brasil seja uma república laica, a igreja católica nunca
deixou de ser uma espécie de religião oficial, dominada por pessoas letradas.
Na igreja evangélica, as lideranças são populares. A igreja é vista como algo
do povo. Os seguidores investem nela porque acham que terão retorno, acreditam
que estão produzindo o luxo. Não investem na igreja católica porque acham que
ela não precisa.
Por um motivo ou outro, enquanto perto da
metade dos evangélicos, umbandistas e espíritas diz obedecer integralmente a
todos os preceitos dessas religiões, entre católicos, só 20% admitem obediência
total aos ensinamentos da igreja. A maioria (48%) procura segui-los, sem muita
rigidez.
A Multiplicação dos Evangélicos
http://jbonline.terra.com.br/
POSTADO PELO:
FILÓSOFO
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