Não alimentamos
qualquer ilusão quanto à reação que alguns esboçarão contra o assunto de que
trata este capítulo; sabemos convictamente que nem todos aplaudirão as
verdades aqui enunciadas. Ninguém deseja ser considerado idolatra,
principalmente tratando-se de pregadores, porém os fatos pesam mais que o
desejo e os fatos aí estão a testificar que há muitos pregadores que, sem se
aperceberem, tornaram-se idolatras de sermões.
Desejamos, fique bem
claro, que o sermão ou pregação pode ser uma fonte de bênçãos para o pregador,
para os ouvintes não-salvos e para os remidos que já pertencem à igreja. Ao
mesmo tempo, frisamos, pode transformar-se numa forma de idolatria. Tudo
depende da atitude que o pregador tomar ao entregar a mensagem ao povo.
A pregação pode ser
uma luz a iluminar o caminho para o Calvário, como pode ser uma nuvem de
obscuridade a evitar que as almas vejam CRISTO e o sigam. Se o pregador
estimar mais a mensagem que prega do que a Pessoa de CRISTO, tal pregador é idolatra.
Se a pregação for feita com o propósito de mostrar a capacidade do orador,
ninguém negará que no coração há idolatria ligada ao sermão.
Inegavelmente o que
há em abundância na igreja dos nossos dias são pregadores idolatras de seu
próprio trabalho, que é feito sem a preocupação de elevar CRISTO, mas com o
cuidado preconcebido de mostrar sapiência humana.
O sermão será um
ornamento a fazer brilhar a luz do Evangelho, se anunciado no propósito que
tornou grande a missão de João Batista, ao declarar que convinha que Cristo
crescesse, e que ele, João, diminuísse. O sermão concorrerá para o brilho da
igreja, se Cristo for o centro e a periferia do assunto que se anuncia. De
outra forma, se a pregação for vazia de sentido e da unção do Espírito, será
um ídolo para o pregador, com o evidente perigo de o ser também para os seus
ouvintes.
Se alguém deseja
conhecer o caráter dos sermões ou pregações dos apóstolos e dos homens de seu
tempo, é só recorrer aos livros do Novo Testamento, pois ali está o espelho, o
modelo e o característico da mensagem que não transforma corações livres em
idolatras de sermões. A primeira verdade revelada na pregação apostólica é que
a mensagem era feita para ganhar almas. O único tema que os inspirava e lhes
dava fulgor era unicamente JESUS CRISTO, o FILHO de Deus.
O contraste entre os
pregadores dos tempos apostólicos e muitos pregadores de nossos dias é
flagrante. O que há em abundância nos dias presentes são ganhadores de
elogios, em virtude de carregarem seus sermões de sabedoria, deixando-os vazios
de CRISTO.
Há pregadores que
seriam bons novelistas, se abraçassem a profissão de escritor, que, porém,
nada tem que ver com a pregação do Evangelho. Não se pense que essa classe de
pregadores é diminuta. Ao contrário, é bem numerosa. Aqueles que falam para
impressionar o auditório, afastaram-se demasiado da estrada da vida. O que CRISTO
pede e deseja do pregador é que fale do que recebeu do PAI; que exprima sua
gratidão, alegria e o poder da salvação. Se o pregador não possuir essas
verdades arraigadas no coração, terá de substituí-las por frases muito
sugestivas, artificiosas e eloqüentes, que recendam a cultura. Mas é aí que
está o perigo da idolatria dos sermões.
Os homens de
responsabilidade integrados na vida da igreja devem saber que religião e
salvação não são assuntos sujeitos às exigências da arte de falar, nem melhoram
com os retoques estéticos do buril lingüístico. Se tal sucedesse, isso seria subordinar
um tema divino e espiritual ao capricho da retórica. A obra de levar almas a
Cristo é mais simples, mas é mais elevada que o trabalho de colecionar termos
para dar realce àquele que prega.
Pregar o Evangelho
não é atrair o intelecto para o brilho da inteligência: é, antes de tudo,
expor ao mundo atribulado o caminho da vida eterna e da paz.
Deus não chamou, nem
chama, para pregarem nas igrejas ou nas praças, preletores de filosofia nem
apologistas das várias ciências. O lugar de prelecionar retórica ou
eloqüência não é a igreja. Há as cátedras onde é mais próprio fazê-lo.
Se o pregador
introduzir elementos estranhos na pregação, prova que está inclinado para um
lado perigoso, que pode transformar-se em idolatria dos sermões.
Envernizar o sermão
com as tintas do saber terreno é ofuscar o brilho da espiritualidade que deve
fulgurar na mensagem do evangelista que fala às almas sem CRISTO.
Fazer um sermão
saturado de frases e expressões engenhosamente dispostas para impressionar o
auditório, pode ser mais fácil que pregar dentro das linhas bíblicas em que só
a graça ressalta e dá vibração, porém tal sermão pouco valor terá para
converter almas a CRISTO, porque é um sermão arquitetado e idolatrado por quem
o fez.
Jamais ouvi um
testemunho de alguém que declarasse haver sido salvo pela ciência, pela
cultura, pela eloqüência ou pelo pregador. Entretanto o que se ouve de todos
quantos alcançaram ser iluminados pela graça de Deus, é que CRISTO os salvou,
que o poder do Evangelho os levantou, que a graça os redimiu.
O pregador que viver
o Evangelho terá na sua mensagem a chama da unção a dar realce ao que fala,
porque é uma força que sai do coração e vai direto ao objetivo. Foi assim na
igreja primitiva, e será assim na igreja, em todos os tempos. Pregar o Evangelho
é colocar os homens face a face com CRISTO, é iluminá-los com a luz do próprio
Céu.
Pregar somente
sabedoria intelectual é colocar os homens face a face com a cultura e
erudição, é o caminho mais curto para o pregador alcançar o altar da idolatria
dos seus sermões. Pregar para ser admirado é fundir bezerros de ouro que os
ouvintes, mais cedo ou mais tarde, adorarão. Pregar a Palavra é sacrifício que
leva até ao holocausto, mas que impede chegar-se à idolatria.
Ninguém se engane com
as aparências! A letra não será o brilho da igreja cristã. A capacidade humana
não é facho de luz capaz de atrair as almas para serem salvas.
A habilidade dos
homens não converterá um só coração. Na igreja somente uma luz deve aparecer - CRISTO,
que é a Luz do mundo.
Se faltar essa luz,
haverá certamente idolatria, pelo menos a idolatria de sermões.
O FILÓSOFO
TAMBÉM
DR. EM TEOLOGIA
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