A mudança climática aumenta a vulnerabilidade das pessoas que são obrigadas a abandonar seus lares e buscar refúgio em outras regiões ou países, afirmou nesta quinta-feira o Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, António Gutierrez. O ex-primeiro-ministro de Portugal se referiu ao agravamento da situação dos refugiados pela mudança climática em seu discurso na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Rio+20, que termina amanhã no Rio de Janeiro.
Gutierrez leu, perante os quase 100 chefes de
Estado e de Governo que participam da cúpula, os dados de um estudo do Alto
Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) sobre a situação de
dezenas de refugiados africanos que foram obrigados a se deslocar por razões
ambientais.
"O estudo confirma o que escutamos dos
refugiados há anos. Apesar de fazerem de tudo para permanecer em suas casas,
eles não têm outra opção a não ser deslocar-se quando as colheitas se perdem e
o gado morre", afirmou Guterres."Esse deslocamento muitas vezes os
leva a situações ainda mais perigosas", acrescentou.
O estudo "Mudanças Climáticas, Vulnerabilidade
e Mobilidade Humana" foi elaborado com base em entrevistas realizadas, no
ano passado, com cerca de 150 refugiados na Etiópia e Uganda por pesquisadores
do Acnur, da Universidade das Nações Unidas, da Escika de Economia de Londres e
da Universidade de Bonn.
Segundo o relatório, apresentado oficialmente esta
semana na Rio+20, a maioria dos entrevistados é de pequenos agricultores
procedentes da Eritreia, da Somália e do Sudão. A maioria disse ter deixado sua
casa como última opção e se deslocado a uma região vizinha em caráter
temporário, embora finalmente tenha abandonando seu país pela deterioração das
condições de segurança nos lugares em que inicialmente se tinham refugiado.
Os entrevistados disseram que tinham abandonado seu
país primeiro por causa da seca e, depois, pela violência. Muitos asseguraram
ter sofrido em suas regiões os efeitos da irregularidade das chuvas e das
secas, mais prolongadas e mais severas que em épocas anteriores.
Apesar de descartarem que as mudanças climáticas
tenham provocado conflitos, admitiram que a escassez de alimentos pelas secas agravasse
conflitos já existentes e provocaram perseguições e repressões.
"Estou convencido de que as alterações
climáticas agravarão a crise dos deslocamentos pelo mundo. É necessário
realizar esforços em escala mundial para responder a esse desafio", disse Gutierrez.
Segundo o Acnur, os deslocados que cruzam a
fronteira por problemas climáticos não necessariamente podem ser considerados
refugiados, status que se reconhece a quem foge de conflitos. Por essa razão, o
Acnur se propõe lançar em outubro, em associação com a Noruega e Suíça, uma
iniciativa que permita atender pessoas que buscam refúgio em outros países por
mudanças ambientais e eventos climáticos.
Sobre a Rio+20
Vinte anos após a Eco92, o Rio de Janeiro volta a
receber governantes e sociedade civil de diversos países para discutir planos e
ações para o futuro do planeta. A Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável, que ocorre até o dia 22 na cidade, deverá
contribuir para a definição de uma agenda comum sobre o meio ambiente nas
próximas décadas, com foco principal na economia verde e na erradicação da
pobreza.
Depois do período em que representantes de mais de
100 países discutiram detalhes do documento final da Conferência, o evento
ingressou quarta-feira na etapa definitiva e mais importante. Até amanhã,
ocorre no Rio centro o Segmento de Alto Nível da Rio+20, com a presença de
diversos chefes de Estado e de governo de países-membros das Nações Unidas.
Apesar dos esforços do secretário-geral da ONU Ban
Ki-moon, vários líderes mundiais não vieram ao Brasil, como o presidente
americano Barack Obama, a chanceler alemã Ângela Merkel e o primeiro ministro
britânico David Cameron.
Além disso, houve impasse em relação ao texto do
documento definitivo, que segue sofrendo críticas dos representantes mundiais.
Ainda assim, o governo brasileiro aposta em uma agenda fortalecida após o
encontro.
O FILÓSOFO
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