Pesquisa divulgada pela organização não
governamental WWF-Brasil revela que é grande o desperdício de água entre os
brasileiros.
“Mais de 80% dos brasileiros consultados
em 26 estados da Federação reconheceram que vão ter problemas de abastecimento
de água no futuro e, desses, 68% reconheceram que o desperdício de água é a
principal causa desse problema”, disse o coordenador do Programa Água para a
Vida da WWF-Brasil, Glauco Kimura de Freitas.
A sondagem chama a atenção para o
desconhecimento da maioria da população sobre o real consumo de água no Brasil.
Na pesquisa, 81% dos entrevistados apontaram a indústria e o setor residencial
como os vilões do gasto de água quando, na verdade, o setor agrícola, em
especial a irrigação, é o maior consumidor do insumo (69%). A pecuária consome
11% de água; as residências urbanas, também 11%; e a indústria, 7%.
“Como 80% da população brasileira vivem
nas cidades, a percepção do cidadão é muito voltada aos problemas da água que
ele enfrenta nas metrópoles. Somente 1% das pessoas reconheceu que o problema
de água está na zona rural também. Ou seja, que aquela água que sai da torneira
dele vem de uma nascente que está, às vezes, a quilômetros da sua casa”, disse Freitas.
De acordo com a pesquisa, só 1% dos
consultados admitiu que o desmatamento e a degradação dos sistemas naturais
causam problemas de água. “Isso mostra que o cidadão tem uma visão bastante
limitada da torneira para frente. Da torneira para trás, há um desconhecimento
muito grande”.
O desperdício é elevado nas residências.
Cerca de 48% dos entrevistados reconheceram que desperdiçam água em suas casas,
o que revela crescimento em relação aos cinco anos anteriores, quando essa
parcela atingia 37%. “Mais de 45% reconheceram que não adotam nenhuma medida de
economia de água nas suas casas”.
Segundo Freitas, falta coerência entre o
discurso e a atitude. Do total de consultados, 30% disseram tomar banhos
demorados, de mais de dez minutos. Em 2006, essa parcela era 18%.
Freitas atribuiu costumes como não fechar
a torneira enquanto se escova os dentes ou lavar a calçada com mangueira à
cultura de abundância que existe, de forma geral, no Brasil, devido à sua
dimensão continental e à abundância de florestas e rios. Com isso, a cultura da
abundância acaba levando ao desperdício.
“Infelizmente, o brasileiro começa a
sentir o problema quando ele já está instalado. Ou seja, quando tem
racionamento, escassez”.
A sondagem revelou ainda que 67% dos lares
pesquisados enfrentam escassez de água. No Nordeste brasileiro, 29% dos
domicílios sofrem esse problema. O consumo médio diário de água por brasileiro,
da ordem de 185 litros, está próximo ao da União Européia (200 litros per capita). Segundo Freitas, “a média
mascara uma desigualdade”, uma vez que o Semiárido do Brasil apresenta consumo
médio de água diário inferior a 100 litros, aproximando-se, portanto, de
regiões da África Subsaariana, onde o consumo é abaixo de 50 litros/dia por pessoa.
“O problema no Brasil não é questão de
falta d’água. É a má distribuição. Existe um descompasso entre a demanda e a
oferta”. Freitas destacou que, no Nordeste, que concentra um grande contingente
da população brasileira, já existe escassez de água, enquanto em regiões como o
Centro-Oeste e o Norte, que concentram menos de 10% da população, há mais
abundância do recurso.
A pesquisa servirá de base para a
elaboração de novas campanhas de educação e conscientização dos cidadãos sobre
a necessidade de preservação dos mananciais de água na zona rural.
O FILÓSOFO
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