Em outubro, quase 140
milhões de brasileiros devem ir às urnas escolher os prefeitos e vereadores de
suas cidades. Desse total,
aproximadamente 2,5
milhões, de acordo com dados atualizados em abril
pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), vão votar por livre e espontânea vontade. São jovens de 16 e 17 anos que, mesmo sem obrigação, optaram por
participar do processo democrático.
O estudante Lucas Zantut, de 16 anos, se prepara para sua primeira
eleição. Ele conta que resolveu tirar o título para exercer o direito que lhe é
dado pela democracia, mas é cético quanto ao poder individual do voto. “Não
acredito que sozinho seja capaz de mudar o local onde vivo, mas a consciência de ter feito minha parte é o mais importante”,
acredita.
Letícia Ghiggino, de 17, critica esse tipo de pensamento. “Se todos tiverem essa mentalidade, de que o voto não fará a diferença,
nunca teremos pessoas competentes”, afirma, apesar de acreditar
ser difícil mudar a realidade.
A visão de Letícia, de 17 anos, é
pouco mais positiva. Ele acredita que o voto pode transformar as cidades. “Nós
elegemos nossos representantes e suas propostas e após a eleição é nosso dever
fiscalizar o cumprimento das promessas”, afirma, resolveu tirar o título para
ter seus interesses representados e também fiscalizar os políticos.
Letícia sabe exatamente
o que quer dos políticos. “Eu
espero que melhorem as cidades, mas está difícil achar alguém competente o
suficiente para fazer as mudanças necessárias”, diz sem
esconder seu desânimo antes de assumir: “não tenho confiança nos políticos”.
Ao dar sua visão sobre o
tema, não ataca só os políticos, mas também a população. Ele elege o
desinteresse dos brasileiros como o maior mal da política e acredita haver
predominância de representantes dos interesses de instituições financeiras no
governo, o que ele enxerga como algo negativo. “Para mim, grande parte é
somente porta-voz de empresas e bancos”, lamenta.
Lucas concorda que a
população deveria pensar melhor na hora de comparecer às urnas. “O maior
culpado, além dos políticos, é o povo, que os elege”, acredita. “O Brasil é governado por fazendeiros há anos e ninguém faz nada”,
revolta-se ao mesmo tempo em que escancara sua indignação com a aprovação do
código florestal, que pode ser vetado pela presidenta Dilma dentro de dias.
Tem quem diga que
criticar é fácil, difícil é fazer. Então, se o poder estivesse nas mãos desses
jovens, quais seriam suas prioridades? Todos os entrevistados citam educação e
saúde como as grandes urgências.
Mas Letícia diz, outro
grande mal não foi esquecido. Na esteira da CPI que investiga as ligações do
contraventor Carlinhos Cachoeira com
agente públicos e privados e também com a possível proximidade do julgamento do
chamado mensalão, os jovens se mostram decepcionados com o desperdício de
dinheiro público que acreditam existir. “O
maior mal, infelizmente, é a corrupção e a falta de seriedade de alguns
políticos” dispara Letícia.
Muito ou pouco
confiantes no poder transformador do voto, os adolescentes ao menos já deram o
primeiro passo para tentar melhorar o país fazendo valer o direito que têm de
participar da eleição. Como a emissão do título de eleitor é opcional na faixa
etária em que se encontram, muitos na mesma idade nem sequer consideram a idéia
de opinar nas urnas. Letícia, entretanto, aconselha que exerçam esse direito.
“Só assim podem defender suas idéias”, pontua.
Letícia se diz ansiosa e
ao mesmo tempo confusa em participar das eleições e acredita que quantos antes
às pessoas se envolverem na política, melhor, mas ressalva:
“se for para
votar em qualquer um, melhor não tirar o título”. Ela diz que fará uma boa
pesquisa sobre os candidatos para ter certeza de que votou nas pessoas certas,
por mais que elas não sejam eleitas.
Para Letícia, o maior problema é que grande parte dos
brasileiros se interessam pouco por política por acreditarem que o Estado é algo
muito distante e que dificilmente será modificado. Ele acredita que essa visão
é equivocada, pois é o povo que compõe o governo. “Uma pessoa que não se interessa por política está condenada a ser
governada por aquelas que se interessam”, conclui.
O FILÓSOFO
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