Em 1960, 3,3 milhões tinham mais de 60 anos; em 2010, eram 20,5 milhões.
Ao longo dos últimos 50 anos, a população
brasileira quase triplicou: passou de 70 milhões, em 1960, para 190,7 milhões,
em 2010. O crescimento do número de idosos, no entanto, foi ainda maior. Em
1960, 3,3 milhões de brasileiros tinham 60 anos ou mais e representavam 4,7% da
população. Em 2000, 14,5 milhões, ou 8,5% dos brasileiros, estavam nessa faixa
etária. Na última década, o salto foi grande, e em 2010 a representação passou
para 10,8% da população (20,5 milhões).
A comparação feita baseia nos censos demográficos
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 1960, de 2000 e de
2010.
O envelhecimento da população é uma tendência tão
evidente que até mesmo os critérios do IBGE mudaram. Em 1960, todas as pessoas
com 70 anos ou mais eram colocadas na mesma categoria. Já nas pirâmides etárias
de 2000 e 2010, as faixas etárias foram separadas a partir dos 70 de cinco em
cinco anos até os 100 (no gráfico abaixo, os dados foram somados para que
pudesse haver a comparação entre os três períodos).
"O Brasil ainda é um país com a maioria da
população jovem, ainda temos elevado percentual de jovens no mercado de
trabalho, mas temos que nos preparar para o envelhecimento da população,
principalmente em relação à pressão sobre a Previdência. Entre as iniciativas
válidas está a de apoiar a implementação de recursos com Previdência
complementar. Precisamos pensar e criar mecanismos que tornem o sistema mais
sustentável", diz Bárbara Cobo, pesquisadora de indicadores sociais do
IBGE.
Ana Amélia Camarano, do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea), concorda. "O país está se preparando para esse
futuro, mas ainda há muito a ser feito", diz.
Recentemente, o Congresso aprovou um novo fundo
complementar para o servidor público federal com o objetivo de reduzir o
déficit da Previdência. O projeto ainda precisa ser sancionado pela presidente
Dilma Rousseff. Há outro projeto em discussão no Congresso para mudar o fator
previdenciário, instrumento que visa reduzir o valor do benefício de quem se
aposenta antes dos 65 anos, no caso de homens, ou 60, no caso das mulheres.
Esse projeto pode aumentar os gastos do governo e, por conta disso, uma proposta
que extinguiu o fator foi vetado no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva.
Segundo Bárbara, a maioria da população idosa do
país está concentrada próxima a áreas urbanas. "São regiões com maior
disponibilidade de serviços médicos qualificados e também uma rede social com
atividades de lazer, culturais e religiosas que permitem maior envolvimento
dessa faixa etária na sociedade", diz.
Um dos indicadores da mudança na pirâmide etária é
a queda da taxa de fecundidade, publicada na última sexta-feira (27), entre
outros dados do Censo Demográfico 2010. A queda tem feito com que o gráfico que
separa os habitantes por idade fique cada vez menos triangular. Censo após
censo, ele fica mais volumoso na parte central, que representa a população
adulta, e começa a diminuir na base, onde ficam os mais novos.
O
envelhecimento da população é uma tendência e grande parte dos países
desenvolvidos já chegou nessa etapa".
Bárbara
Cobo, pesquisadora do IBGE
"O envelhecimento da população é uma tendência
e grande parte dos países desenvolvidos já chegou nessa etapa, decorrentes do
maior desenvolvimento social e do aumento da expectativa de vida. Isso é fruto
do avanço da medicina, de melhorias nas condições de saneamento nas cidades, da
diminuição da taxa de fecundidade, dentre outros fatores", diz Bárbara
Cobo, do IBGE.
Em 2010, cada brasileira tinha em média 1,9 filho.
Foi a primeira vez que o número ficou abaixo do chamado nível de reposição –
2,1 por mulher –, que garante a reposição das gerações. Em outras palavras, a
manutenção dessa tendência deve provocar a redução da população brasileira no
futuro.
O número caiu 20,1% ao longo da última década. Em
2000, cada mulher tinha em média 2,38 filhos. Há 50 anos, a taxa de fecundidade
era de 6,3 filhos por mulher - mais que o triplo do que é hoje.
"Nos próximos 30, 40 anos, essa tendência de
envelhecimento da população brasileira é praticamente irreversível, a menos que
a fecundidade volte a aumentar e a aumentar muito", acredita a
pesquisadora Ana Amélia Camarano, do Ipea. "Isso ocorre porque a taxa de
fecundidade caiu muito desde os anos 90 e a taxa de mortalidade nas idades
avançadas também diminuiu", explica.
“Isso
ocorre porque a taxa de fecundidade caiu muito desde os anos 90 e a taxa de
mortalidade nas idades avançadas também diminuiu”.
Ana
Amélia Camarano, do Ipea:
"Alguns países com aumento da população idosa
começaram a criar políticas públicas de incentivo para as mulheres terem mais
filhos. O ideal, para repor a população do país, seria que cada mulher tivesse
dois filhos", aponta Bárbara.
Dados
Apesar do crescimento absoluto de mais de 20 milhões de pessoas entre 2000 e 2010, a quantidade de crianças diminuiu. Em 2000, 32,9 milhões de brasileiros tinham menos de 10 anos; em 2010, o número caiu para 28,7 milhões.
Apesar do crescimento absoluto de mais de 20 milhões de pessoas entre 2000 e 2010, a quantidade de crianças diminuiu. Em 2000, 32,9 milhões de brasileiros tinham menos de 10 anos; em 2010, o número caiu para 28,7 milhões.
Dentre as faixas etárias separadas pelo IBGE, a
mais povoada em 2010 era a que fica entre os 20 e os 24 anos – 17,2 milhões
(9%) de brasileiros têm essas idades. Em 2000, a maior concentração era na
faixa etária imediatamente abaixo – 17,9 milhões (10,6%) tinham entre 15 e 19
anos de idade. Há 50 anos, as crianças pequenas eram a parcela mais
significativa da população – 11,1 milhões (15,8%) tinham entre 0 e 4 anos.
Mães mais velhas
Com os novos padrões, mudam também os hábitos. Os
dados divulgados na sexta-feira mostram que a tendência é que as mulheres
tenham filhos cada vez mais tarde. Em dez anos, aumentou o percentual de
mulheres que se tornaram mães depois dos 30 anos. Em 2000, elas representavam
27,6% do total; em 2010, já eram 31,3%.
Enquanto isso, houve queda entre as mais novas. Os
grupos de 15 a 19 anos e de 20 a 24 anos de idade, que tinham respectivamente
18,8% e 29,3% das mães em 2000, passaram a concentrar 17,7% e 27,0% do total em
2010.
Para Bárbara Cobo, o fato de as mulheres deixarem para ter filhos mais velhas não tem relação direta com o aumento da população idosa. "Não acho que a mulher pensa que, já que as pessoas estão vivendo mais, vou deixar para ter um filho mais tarde. A tendência decorre do avanço da mulher no mercado de trabalho e da implementação dos métodos anticoncepcionais desde a década de 70, que muitas vezes gera uma mudança de comportamento da mulher, que se preocupa em consolidar uma carreira estável primeiro."
O FILÓSOFO
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