Os sábios antigos acreditavam que antes de ensinar
é preciso aprender. Uma crença no óbvio, você dirá. Ninguém precisa ser sábio
para endossar tal conceito. Entretanto, não é o que se vê por aí.
Hoje, o fulaninho vira mestre antes de saber qualquer coisa. Acumula impressões, números, idéias vagas e, no dia seguinte, está pronto a despejar "sabedoria" no ouvido dos discípulos. E estes, por sua vez, julgam saber mais que os seus professores.
Desde que acendemos a primeira fogueira do lado de fora da caverna (ou até antes), o conhecimento foi um fator de diferenciação. Aquele que sabia algo importante para a sobrevivência do grupo assumia, naturalmente, papel de destaque. O conhecimento não significa que o grupo deve atribuir ao conhecedor o poder de comandar, como queria Platão, com seus reis filósofos, mas foi - e ainda é - um fator decisivo na evolução dos povos.
Ainda que este governo em um sonho quase impossível venha investir o suficiente na educação, a sociedade piauiense acreditou um dia no papel transformador do saber. O Império, com Pedro II, jamais duvidou disso, embora limitasse o acesso a um número restrito de pessoas.
Nos primeiros anos da República, a crença se manteve, com as mesmas limitações
de classe social do período anterior, apenas disfarçadas pelo discurso oficial.
E a propaganda, aos poucos, foi substituindo a realidade.
Vargas, no Estado Novo, fez da escola a grande mídia de doutrinação de crianças e adultos. Mais que estudar Matemática, Português, Ciências e História, a meninada cantava músicas patrióticas.
As músicas praticamente desapareceram do cotidiano da escola, nas décadas seguintes, mas os militares de 1964 inventaram - para substituí-las - a mistificação da "Educação Moral e Cívica", cujo objetivo era impor a obediência às regras sociais e políticas vigentes e negar as mudanças históricas. E é o que parece que este governo do Piauí quer trazer a baila novamente.
Tudo isso fez da educação, no Brasil, muito especialmente aqui no PI, um espelho que reproduz mitos, preconceitos e opções da elite dirigente, em cada período histórico. E assim chegamos, valentemente, ao pior dos mundos.
Os instáveis parâmetros que medem hoje o desempenho escolar de crianças, jovens e adultos são inadequados a um país que reivindica lugar entre as potências mundiais.
A formação de professores com suas funcionabilidades e legalidade é determinada
por diretrizes mais ideológicas que científicas. O relacionamento entre
professores e alunos se caracteriza por um conceito equivocado e inexistente de democratização a partir
deste governo déspota com seus vínculos de igualitarismo, que coloca os dois
grupos no mesmo patamar e estimula o conflito de postura aberto (e violento)
entre quem julga saber tudo e aqueles que nada sabem.
Dos professores - em lugar da especialização - exige-se formação multifacetada, que a Universidade não garante e o atual governo pisoteia. Dos alunos, espera-se que aos cinco ou sete anos de idade assimilem imenso volume de conhecimentos, mesmo que não compreendam sequer a língua que falam.
Não passa um dia sem que deputados exijam a inclusão de novas matérias no currículo. Esses "legisladores" tratam à educação como se fosse varinha mágica, que vai salvar o Brasil e o povo de calamidades como a droga, obesidade, mortes no trânsito, acidentes de trabalho e violência contra a mulher. E as famílias ainda esperam que a escola eduque seus filhos, com professores recebendo salários minguados e vergonhosos.
Vão esperar um século, sentadas e adormecidas.
Somos todos o que somos e este governo do Piauí se impõe como mestre de nada, perdidos no cipoal da nossa ignorância.
O FILÓSOFO
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