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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

ENTREVISTA COM O PROFESSOR ROBERT ROYAL SOBRE O FUNDAMENTALISMO ISLÂMICO







Ainda que se acreditasse que o martírio pertencia aos primeiros tempos do cristianismo, nunca foi tão atual como em nossa época, em particular entre os ambientes do fundamentalismo islâmico.

É a preocupação que expressa o professor Robert Royal, autor em 2002 do livro «Os mártires do século XX. O rosto esquecido da história do mundo» (Ed. Ancora, Itália: «I martiri del ventesimosecolo. Il volto dimenticato della storia del mondo»).

Houve mais mártires no século passado que em qualquer outro momento da era cristã. Mas o professor Royal observa que o derramamento de sangue nos primeiros anos do terceiro milênio não faz pressagiar uma inversão da tendência.

Vistos os últimos acontecimentos, o jornal católico «Avvenire» entrevistou o professor Royal (presidente do «Instituto Fé e Razão» (Faith & Reason Institute) com sede em Washington DC).

--Professor Royal, que reações provoca quando fala de «mártires» a um público contemporâneo?

--Robert Royal: É um conceito difícil de entender, inclusive para os católicos. Pensa-se que é algo que podia ocorrer só nos tempos dos primeiros cristãos, dentro do Coliseu, e que já não sucede. Mas em números nunca o martírio foi tão atual. 


--O que o faz acontecer hoje?

--Robert Royal: Em meu livro assinalava para a natureza ideológica do século recém-concluído. Mas ultimamente notei uma tendência preocupante que talvez dentro de alguns anos será clara em toda sua gravidade. É o ressentimento de muitos fundamentalistas muçulmanos com respeito aos ocidentais e a facilidade com a qual é instrumentalizado por líderes e regimes radicais.

--Poderia dar um exemplo?

--Robert Royal: Observe-se a própria Turquia. Sempre foi perigosa para os sacerdotes católicos. Ainda que se defina um regime secular, de fato a tolerância com respeito aos cristãos é muito baixa. Portanto, não me surpreende que a Turquia tenha sido cenário do assassinato do padre Santoro. Mas este caso mostra o tipo de degeneração de acontecimentos que poderíamos seguir vendo no futuro próximo, por causa da crescente tensão entre Oriente e Ocidente. Revela que há muitos fanáticos, neste caso muçulmanos dispostos a recorrer à violência diante da mínima provocação.

--A quando se remonta esta tensão? Precede o “11 de setembro” e a invasão do Iraque?

 
--Robert Royal: Em minha opinião sim. Um exemplo claro é o assassinato de John Joseph, bispo de Faisalabad, no Paquistão, morto em circunstâncias misteriosas em maio de 1997, que reflete uma modalidade que se está representando com freqüência. Isto é, um regime que faz quase impossível para os não-muçulmanos encontrar trabalho ou participar da vida pública e de fato cria um clima no qual sua perseguição é legítima. É uma forma de islamização forçada, de campanha pela «pureza religiosa» comum já em muitos países muçulmanos. Não todos os estudiosos do Alcorão ou os religiosos muçulmanos a justificam, mas a pressão dos fundamentalistas se faz cada vez mais forte.

--Quais são os países onde os cristãos correm mais riscos?

--Robert Royal: Um é certamente a Arábia Saudita, que tem ainda maior rigidez que o Paquistão. Aí qualquer expressão pública de fé cristã está proibida e em teoria se pode ser preso por orar na própria casa. Quando os americanos estiveram na Arábia Saudita durante a primeira guerra do Golfo, por exemplo, foi-lhes ordenado que não rezassem antes das batalhas. E ali, como em quase qualquer parte do mundo muçulmano que se converta ao cristianismo, pode-se castigar por esta conversão à morte. Mas os direitos dos cristãos são violados regularmente e por lei em Kuwait, Qatar, Omã, Emirados Árabes e Turquia. E as coisas estão piorando. Vejo, por exemplo, explosões de violência anticristã também no Egito, além de, naturalmente, no Iraque.

--Então crê que nos próximos anos o martírio de cristãos ocorrerá mais no mundo árabe-muçulmano?

--Robert Royal: Também estão a China e a Coréia do Norte, e existem ameaças nos próprios países ocidentais. Em muitos países europeus, assistimos ao nascimento de movimentos anticristãos e anti-religiosos que podem ser muito violentos. E não se pode esquecer que no mundo islâmico surgem continuamente também oportunidades de diálogo. Mas é um diálogo muito difícil, que choca constantemente com a vontade dos regimes de explorar qualquer ocasião para impulsionar as massas à violência antiocidental.

--Considera que o ódio nestes países se dirige aos cristãos enquanto tais ou como ocidentais?

 
--Robert Royal: Em muitos países do mundo islâmico esta distinção não existe. O sentimento antiocidental estende-se a americanos e europeus, judeus e cristãos. Os religiosos como o padre Santoro é vistos como representantes dos governos ocidentais, de igual forma que no mundo islâmico religião e política são a mesma coisa. É um ódio que nasce de um sentimento de profunda humilhação que funde suas raízes na história do século passado, a partir da Primeira Guerra Mundial. Mas agora o ressentimento é pulsante. Naturalmente há muitas razões para refletir sobre o comportamento do Ocidente com respeito ao Oriente Médio, mas a diferença é que os cristãos estão dispostos ao diálogo, enquanto que em muitos países islâmicos o clima está demasiado envenenado para permitir uma discussão honesta e em igualdade. Basta dizer que ainda que é verdade que as charges sobre Maomé são blasfêmias para um muçulmano, as caricaturas e os artigos anticristãos e antijudeus estão na ordem do dia nos jornais árabes, mas poucos estão dispostos a reconhecer isso.

[Traduzido por Zenit]


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