A medida foi anunciada no dia seguinte ao
início do cessar-fogo em Gaza, cuja negociação foi intermediada pelo líder
egípcio.
Incentivado pelo prestígio internacional
lucrado com o acordo, o presidente Mursi tentou consolidar seu poder em casa.
Mas, ele pode ser acusado de excesso de
confiança, ou ingenuidade política.
O presidente disse estar agindo para
proteger a revolução.
Especificamente, ele desejava evitar que a
Justiça dissolvesse, pela segunda vez, a Assembleia Constituinte que prepara a
nova Constituição do país.
Houve relatos de que os tribunais estavam,
de fato, prestes a fazer isso.
A dissolução poderia atrapalhar seriamente
o processo de transição democrática, atrasando ainda mais as novas eleições
parlamentares - o que pode impedir os líderes polítcos egípcios de tomar
decisões difíceis enquanto aguardam a formação do Parlamento.
Fúria
Muitos dos atuais juízes foram nomeados
durante o governo do ex-presidente Hosni Mubarak. As indicações não eram feitas
diretamente pelo Executivo, mas muitos egípcios suspeitam que eles ainda sejam
leais ao antigo regime.
O mesmo raciocínio se aplica ao procurador
geral - que Mursi acaba de destituir.
Seu substituto agiu rapidamente para
reabrir as investigações criminais sobre o ex-mandatário, seus familiares e
funcionários do antigo regime.
Uma série de julgamentos sobre corrupção,
e a respeito de assassinatos cometidos durante a revolução, resultou até agora
apenas em resultados dúbios. Isso levantou questionamentos sobre a lealdade do
procurador-geral, embora o próprio Mubarak esteja cumprindo uma longa pena de
prisão.
O presidente egípcio Muhammad Mursi |
Divisões amargas
O presidente Mursi terá o apoio de muitos
egípcios nesses dois pontos. Mas é a forma como as ações foram tomadas que está
despertando tanta fúria.
Mursi falhou em consultar outras forças
políticas, agindo de uma forma autocrática que lembra o governo de seu
antecessor.
Na verdade, ele se deu mais poder do que
Mubarak jamais teve - sem quase nenhuma restrição.
Sua tentativa de marginalizar o Judiciário
faz lembrar o início da chegada ao poder do movimento dos Oficiais Livres, que
derrubou a monarquia na década de 1950. O episódio foi o início do período que
atualmente começa a ser descrito como as seis décadas de ditadura militar no
Egito.
Como resultado, muitos egípcios começam a
acreditar que a agenda real do governo não é proteger a revolução, mas aumentar
o poder do presidente Mursi e da Irmandade Muçulmana, o movimento islâmico que
o lançou.
Também estão sendo feitas acusações de que
o objetivo subjacente de Mursi é permitir que a Assembleia Constituinte -
atualmente dominada por políticos islâmicos - escreva uma Constituição de
orientação islâmica para o país.
É por isso que as ações do presidente Mursi
produziram tão amargas, e potencialmente perigosas, divisões no Egito.
As ações do governo e os protestos de
segmentos da população podem transformar a questão em uma batalha, que terá
muçulmanos de um lado e liberais, defensores do secularismo e cristãos do
outro. Há portanto temores de que o processo se transforme em uma luta
sectária.
Tais temores podem ser exagerados. Mas não
há dúvidas de que esse é um momento importante para o Egito.
Todas essas questões são uma luta titânica
para determinar a direção que seguirá no futuro um país que frequentemente
traça o caminho do Oriente Médio.
O FILÓSOFO
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