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sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

CRÔNICA DE ADEUS


Lá vinha eu caminhando pensativo naquele início de dia tomado por uma neblina espessa que descia da Serra da Mantiqueira. As imagens não eram nítidas, avistavam-se apenas vultos por onde se passava. Estava eu assim quando fui tomado por uma tristeza e solidão jamais sentida, eu era a própria solidão e dor em pessoa, eu estava carente de um aperto de mão de um amigo, de um abraço e um beijo de minha mulher amada ou de um gesto de carinho  ao meu redor. O vazio  crescia conforme eu subia uma ladeira não tão íngreme.

De repente me senti invadido por sentimento de angústia, tristeza e dor.
Nuvens sombrias pairavam sobre mim. Quando percebi, estava andando encuravado como se eu estivesse carregando nas costas o mundo todo. Meus passos pareciam derramar cinzas pelo caminho que me fazia sentir dores insanas por tantos tropeços.

Fiquei preocupado. O que estaria acontecendo? Estava me sentindo outra pessoa, não era eu que caminhava era um espectro, um zumbi ambulante. Eu era um desconhecido pra mim mesmo.  Parecia que eu esvaía ou que já tivesse sucumbido. Ou que eu teria descoberto minha verdadeira essência? A nebulosidade fez com que eu me imaginasse na rua de minha casa, não mais estava em São Paulo, sonhei com minha casa em Campo Maior, que já estava em minha rua, próximo de minha residência mas, não vejo minha casa, estava ali o armazém ou fábrica, do outro lado o consultório e a clínica, mas cadê minha casa? Desapareceu no vácuo? Minha casa onde morava minha esposa, amada esposa, que me trocara por uma peça da informática, era como se as casas vizinhas espremecem minha casa e ela sumiu dali. Eu ainda não estava louco, firmei minha vista em meio à neblina e pude constatar que minha casa não estava mais ali, parecia que a linda visão do passado tinha se esvaído. Realmente ela tinha sumido da rua. Fechei e abri meus olhos várias vezes, a imagem era a mesma, e me mostrava algo inusitado e incompreensível.

Foi neste momento, quando o inexplicável confudiu minha mente. Será que os meus sonhos se esvaíram de fato? O amor do passado sumiu com minha casa? Neste sacrosanto momento surgiu ao meu redor uma luz, luz de cor sobrenatural sobre meu redor e dela vi surgir um SER magnífico e estava me cativando indelevelmente. A sua presença me transmitia paz e esta paz vinha tão silente que transbordava sabedoria.
À primeira vista pensei que se tratava de um anjo, mas olhei melhor, ele não tinha asas, a imagem que reconhecemos como anjo com asas.

Com muita agilidade aquele SER me tomou pelas mãos e quando eu percebi já estava nas alturas, voando em sua companhia, quis olhar para baixo para identificar minha rua, a rua da minha amada casa que abrigava minha amada esposa, mas confesso fiquei com medo, olhei para o SER que estava em meu lado e pelo brilho dos seus olhos percebi que ele concordava comigo e sentia o desejo do meu coração.

Então voltei meus olhos para baixo sem compreender como, pude avistar, lá de cima, lá nas altturas, a minha rua. Lá estava minha casa, meu lar, abrigando minha amada. Mistério ou demência? Não importava o sentido de tudo aquilo, o que tinha certeza era que a minha casa que havia sumido minutos antes, agora estava lá. Estaria eu sonhando ou tendo pesadelo? A dúvida foi respondida por um sentimento suave de estar flutuando em um espaço que parecia de outra dimensão, num universo paralelo ao nosso.

Não me importo pra onde estou sendo levado, pois a sensação de confiaça pairava no ar com o silêncio daquele SER que me conduzia. Mergulhei numa paz nunca antes esperimentada, olhei uma vez para baixo e avistei minha casa, desta vez com mais nitidez, pois a neblina já havia se dissipado. Fiquei sem entender como consegui, ver minha casa amada, como se estivesse bem próximo dela. Ouvi uma voz cujo som é melhor do que mil gerações, melhor do que as sinfonias dos pardais, um bálsamo.

- Acorda, papai, papai! Já está na hora do café! Vi outro SER angelical aparecer pra minha amada filha e lhe dizer, seu papai viajou pra bem longe daqui e ele vai lhe esperar sem pressa, fique tranqüila, não se perturbe ele está bem, muito bem. 

- Mas  ele está debaixo da coberta... Não, não está, mas ele vai te aguardar dormindo o sono dos justos. Lá do alto eu vi o rosto feliz dela, minha amada, filha me senti confortável ela vai ficar muito bem, e o seu futuro será brilhante, e ela pode ascultar adeus querida, estarei te esperando sem pressa, mas com muito carinho...

O FILÓSOFO

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