Avenida Paulista - centro financeiro do Brasil |
Segue abaixo uma crônica escrita pelo campomaiorense e funcionário público, Sérgio Emiliano. Como é nosso propósito, publicamos o texto na íntegra e respeitamos a autoria. Leiam e acompanhe Sérgio numa viagem a Sampa.
U2 |
Visitei São Paulo. Fui assistir ao show da minha banda preferida, o grupo irlandês U2. Eu, que passei grande parte da minha vida ouvindo o Bono Vox, não acreditei quando os ingressos chegaram às minhas mãos. Graças a Vandrinha, eu não caí num golpe de cambista.
Moro numa cidade minúscula e pacata e de repente me vi dentro de um avião rezando para que tudo desse certo. Houve uma escala no aeroporto do Galeão no Rio de Janeiro e de lá desembarquei no Cumbica, em Guarulhos.
Aeroporto Internacional Gov. André Franco Montoro - Cumbica (Guarulhos) |
Uns me chamam de louco mais nada melhor do que se deixar surpreender e ver o mundo com os olhos curiosos de uma criança ou de um fã apaixonado.
Santo Agostinho já dizia que a vida é um livro e quem não viaja só ler a primeira página. Esqueci que a cidade tem 11 milhões de pessoas e que é a terceira maior do mundo.Tive paciência com as filas do check in e apaguei da memória as cenas de violência que via na TV, os alagamentos e o trânsito infernal.
Só viajar importa. Ter a liberdade de ir de um lugar a outro e se entregar as cenas que surgem a nossa frente, não tem preço. Eu queria me surpreender com a grandeza do show, com a imensidão do estádio Morumbi, sentir a vibração positiva das pessoas cantando e gritando as minhas canções favoritas.
Olhei atentamente a arquitetura dos prédios, o ritmo da multidão lotando o metrô rumo aos seus trabalhos, os botecos e padarias lotados de clientes anônimos.
O rio Tietê carregado de poluição nem é tão feio assim. Tudo depende do seu olhar.
Caso queira se estressar com o trânsito com certeza você será feliz nessa empreitada. Como disse, quis olhar a cidade de um outro jeito, de uma maneira menos adulta e mais infantil.
No meio daquela loucura de carros e motos eu conseguia ouvir minha respiração e ficava maravilhado com o vôo dos milhares de helicópteros sobre nossas cabeças. Por que é tão difícil as pessoas se desligarem numa cidade como São Paulo? A verdadeira fonte da juventude talvez seja justamente isso. Embargar numa viagem em buscas de surpresas, de coisas novas, de um movimento diferente, dar ouvidos as histórias dos taxistas.
São Paulo não é só uma cidade. É um mundo, apesar do clichê. E foi atrás dele que quis mergulhar, pois aprendi desde cedo que devemos jogar o coração lá na frente e sair correndo para pegá-lo.
Chego muito cedo num aeroporto lotado de pessoas falando vários idiomas e me assusto com os 17 graus. Havia marcado com uma amiga e ela não aparece. Ligo sem sucesso e fico tranqüilo quando vejo crianças brincando sem parar aos lado de seus pais. Não me senti um nordestino pobre perdido entre americanos ricos recém chegados.
Depois de uma longa meia hora reencontro Magda, a minha companheira de show.Tomamos um ônibus executivo com destino ao centro de São Paulo, mais precisamente praça da República.Estava quase tudo igual a 16 anos atrás. As mesmas estátuas, prédios e avenidas. A marginal Pinheiros ficou enorme depois de um aterro, surgiu a ponte estaiada e o lindo edifício da rede Globo.
O Martinelli ainda estava no mesmo lugar cheio de histórias e fantasmas e o Itália virou um mero esqueleto de vidros sujos e sem vida. Para os mais curiosos, eu não fui na 25 de março. Em compensação, comi morangos americanos no Mercadão e saboreei um imenso pastel de bacalhau. Vi frutas em que nunca saberei seus nomes e países de origem. Fantástico!
Ponte Estaiada Octavio Frias de Oliveira |
Rede Globo |
O Martinelli ainda estava no mesmo lugar cheio de histórias e fantasmas e o Itália virou um mero esqueleto de vidros sujos e sem vida. Para os mais curiosos, eu não fui na 25 de março. Em compensação, comi morangos americanos no Mercadão e saboreei um imenso pastel de bacalhau. Vi frutas em que nunca saberei seus nomes e países de origem. Fantástico!
Edifício Martinelli com 30 andares, foi o primeiro arranha-céu da capital paulista e de toda a América Latina. |
Caminhava na rua como um paulistano. Rápido, muito rápido como se estivesse atrasado para uma reunião importante. Tomei café numa daquelas inúmeras padarias e passei horas na Galeria do Rock com tribos de todas as facções. Subi no alto do Banespão e de lá dava para ver a silhueta da serra do Mar, tendo todos os prédios aos seus pés. Tomei chope na cervejaria São Jorge e ficava olhando as pessoas indo e vindo. Queria segui-las, saber de suas vidas, aonde iriam, que metrô tomariam.
Fiquei encantado com o acervo do MASP.Monet, Manet, Velásquez, Goya,Renoir.... tudo ali ao alcance dos meus olhos. Vi os detalhes das pinceladas e o incrível jogo de luz e sombras. Eles são gênios na melhor acepção da palavra.
Fui ao parque Trianon logo em frente e senti a beleza de uma floresta de mata atlântica. Como conseguiram preservar tudo aquilo?
Descendo a Paulista, entrei na Casa das Rosas ou casa do poeta Haroldo de Campos. As salas estavam lotadas de pessoas ouvindo poesia e música erudita. Tudo é cercado por um belo jardim cheio rosas de todas as cores. Com certeza, foi o único casarão que restou na Paulista.
Chegamos na famosa Augusta e os meus pés pediam socorro.Tomamos chope com fritas, enquanto um vento gélido batia em nossas caras. Ao nosso lado, um casal namorava e chorava ao mesmo tempo. Aposentados passeavam de mãos dadas e adolescentes voavam com seus skates. Alguém dentro de um Mercedes blindado nos olhou e atendeu ao celular. Torres coloridas imensas no alto dos prédios nos dava as boas vindas. De táxi passamos devagar pela chic Oscar Freire e caso eu resolvesse descer para pisar na calçada me cobrariam mil reais no mínimo. Terminamos o dia numa pizzaria do Bixiga.
Quase não dormimos. Íamos dormir as três e as sete já estávamos no mundo.
Mosteiro de São Bento, imponente local que hospedou o Papa na sua visita ao Brasil |
O relógio do Mosteiro de São Bento é considerado o relógio mais preciso do Brasil |
Como nem tudo é festa e show, fui assisti uma missa no mosteiro de São Bento. Quando os monges entraram por uma porta lateral entoando os cantos gregorianos eu desabei. Meu queixo caiu e eu só era ouvidos. Podia ouvir as batidas do meu coração. Toda a Igreja ficou impregnada do cheiro de incenso e ali eu senti o poder monumental da igreja católica, com seus ritos, dogmas e muita tradição. Depois fomos tirar fotos com as estátuas vivas e ver o trânsito na avenida Julio Prestes de cima do Santa Ifigenia.
Viaduto Santa Ifigênia, O viaduto Santa Ifigênia foi inaugurado em 1913, com estrutura metálica já moldada, trazida da Bélgica. Liga o Largo de São Bento ao bairro Santa Ifigênia. |
Pegamos um táxi e fomos para o estádio. As filas já estavam enormes e aí eu soube o que seria uma Torre de Babel. Atrás de mim, um casal de Porto Alegre. Logo a frente outro de Recife. Na fila ao lado, argentinos e venezuelanos. E no meio dessa muvuca toda, todo tipo de camelô vendendo camisetas, cerveja, capas de chuvas e sanduíches. A fila nunca andava e eu começava a ficar nervoso. Depois de 3 longas horas os portões se abrem e eu me deparo com um Morumbi só prá mim. O palco era gigantesco e em poucos minutos eu vi o que seja 90 mil pessoas juntas e com a mesma sede: o show! Era com se a população de três Campo Maior estivesse num mesmo lugar.
De repente um chuva desaba sobre nós.Muita água com direitos a raios e trovões. Coisas de São Paulo.
Faltando meia hora para o início do show as estrelas aparecem no céu como que por encanto.
Um relógio no telão vai se esfacelando aos poucos , uma luz divina clareia o palco e voz do camaleão David Bowie surge rasante nas caixas de som. Enquanto a sua música Space Oditty era tocada, todo o estádio se transforma numa espécie de arena romana.Todos gritavam:U2 u2 u2 u2 u2 u2 u2 u2 u2 u2 u2 u2 u2 u2 u2 u2 u2 e lá vem eles, como deuses, como gladiadores, como tudo. O estádio todo tremia, canhões de luz surgiam do nada e tudo se transformou numa espécie de fogueira incandescente. Os meus ouvidos pediam socorro e a pele dos braços pareciam que iam voar. O resto eu não sei explicar. Chorava, gritava...e quando eu pensava que eu era o único, olhei para os lados e todos estavam iguais a mim ou pior.
Quem era acostumado com as Ivetes Sangalos da vida teve um tapa na cara. O show foi fantástico, perfeito e lindo.
Já no fim das última música, corremos para pegar um táxi de preço exorbitante, mas já sabíamos desse ab uso. Subimos um ladeira que não tinha fim e chegamos exaustos no primeiro táxi disponível.
Quase chegando a um boteco para tomar as últimas da noite, o táxi passa devagar pela Cracolândia e aí eu me apavoro de verdade. Milhares de zumbis transitavam numa rua inteira sem serem incomodados. Só se via o fogo dos seus cachimbos acesos.Milhares de seres esquálidos escondidos por cobertores imundos vagavam de lado para o outro. Uma cena que jamais irei esquecer.Talvez venha ser o fim da civilização, com certeza.
Chegando próximo da Augusta, vários travestis desafiavam o frio e a morte. Meu Deus, que vida é aquela?
Trem do metrô de São Paulo |
Na manhã seguinte, pegamos o metrô limpíssimo e fomos conhecer o museu do Ipiranga.Mais fantástico do que ele só a praça em frente. Uma coisa sem fim, entrecortada pelo Riacho do Ipiranga, e que nessas alturas virou apenas um esgoto a céu aberto.
Museu do Ipiranga |
SÉRGIO EMILIANO
Nenhum comentário:
Postar um comentário
OBRIGADO POR DEIXAR UM COMENTÁRIO PARA O FOLHAS DE CAMPO MAIOR