.

.

terça-feira, 17 de abril de 2012

EU LEIO LIVROS, PORQUE VOCÊ NÃO LÊ?



Querido(a) NAVEGANTE,

Você não vive minha vida, não entende meus conceitos, não vê pelos meus olhos, não sente minhas alegrias e frustrações, não sabe meus motivos e, sinceramente, EU AGRADEÇO.

Esta carta é um pedido. Não, não vou pedir dinheiro, nem presentes, nem um pônei. O que eu quero de você é tão simples, supérfluo e subestimado que pode até passar despercebido quando não está sendo procurado: Você poderia de sua majestosa grandiosidade, me ceder um pouco do seu silêncio?

Durante algumas horas, todos os dias, eu me desligo do seu mundo e mergulho no meu. Meu mundo de papel, de palavras, de sonhos, de entretenimento. E perdão se seu intelecto superior não vê sentido em tão tolas ações, mas a leitura, para um ser tão ínfimo e perdido quanto eu, é um alívio, um amontoado de instantes sem aflição e frustrações, essas duas vadias sem coração que perseguem não apenas a mim, mas a todos nós, humanos, à sua óbvia exceção, senhor Observador, que claramente não apenas vive em completa paz e estado iluminado, como também faz questão de me instigar a procurar tal paz e iluminação.

Novamente, perdão. Essa alma perdida dentro do meu corpo infelizmente não tem sua capacidade divina de transformar álcool em felicidade, de absorver alegria de multidões suadas em lugares lotados com música alta, loucamente, causticante e nauzeante ou de encontrar o verdadeiro significado da vida em cada pequeno momento de satisfação consumista.

Prometo tentar melhorar. Prometo fechar meu livro todos os dias e retornar à sua realidade tão bela e perfeita. Prometo dar o melhor de mim para alcançar seu estado de graça e tornar-me digno de sua atenção, mesmo que já me seja concedida com suas constantes perguntas preocupadas.

“Você só lê?”

“Você não sai?”

“Não vê TV?”

Sim, Querido Observador, eu vejo em cada uma de suas perguntas a imensa preocupação que tens por mim e agradeço profundamente. No entanto, para que eu seja agraciado com seus dons de sociabilidade, visão periférica de longo alcance – para poder acompanhar seus mais brilhantes pensamentos on-line enquanto nem vejo a preciosa novela que indicastes – e outros dons que tanto me faltam, novamente, solicito.

Agracie-me com seu silêncio, e aguarde pacientemente que eu me habilite a viver em seu mundo fascinante, revigorante, vibrante, emocionante, enfim, todos os ANTE que forem necessários. Minha aptidão será provada em breve, de maneira madura e discreta, quando nos falarmos após meu período de privação desta imensa e improdutiva idéia de não ler, e eu lhe sugerir lugares belos e apropriados para ir ou enfiar.

Cordialmente.

O FILÓSOFO

Nenhum comentário:

Postar um comentário

OBRIGADO POR DEIXAR UM COMENTÁRIO PARA O FOLHAS DE CAMPO MAIOR