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quarta-feira, 18 de abril de 2012

O CASAMENTO NO INTERIOR

 
 
Fui  convidado para um casamento no interior. De presente, levei um
faqueiro debaixo do braço e estranhei o fato de ter ido. Não costumo ir
nessas festas mas, era um casal tão feliz e humilde que não pude
resistir.

A casa estava toda preparada. O quintal estava varrido, do alpendre
pendia alguns balões e um freezer velho fazia barulho gelando a
cerveja. O padre  aguardava a entrada da noiva que apareceu com o
rosto coberto por um véu, uma espécie de tule, que sempre voava quando
ela soprava por causa do calor. Ia lá na frente e voltava, repousando
na sua face maquiada. O noivo estava com o olho roxo, pois quando foi
descarregar a cerveja do caminhão, um engradado acertou-lhe em
cheio. Nada que impedisse as famosas juras de amor.

Várias mesas estavam espalhadas por debaixo das árvores. De vez em
quando caía um umbu maduro e eu, calado, torcia para que caísse na
testa de uma comadre que falava sem parar.

Era muita comida. Tachos enormes de porco cozido, galinha, carneiro e
salada de batata inglesa com abacaxi. Uma senhora com um pano de prato
ficava espantando  as moscas e gritava  para um tal de “Zé” tirar a
leitoa que assava no forno de lenha.

Todos estavam felizes e mais convidados chegavam  de motos, cavalos e caminhão.
A cerveja espumava, mas logo foi ficando cada vez mais gelada. Uma
banda tocava forró, depois forró e depois mais forró.

A melhor mesa foi dada ao padre, aos padrinhos e ao fazendeiro rico vizinho.
O chão havia sido bem molhado e uma poeira ainda surgia dos pés que dançavam 
numa energia sem fim. De vez em quando eu levava um susto,
pois os gatos passavam por debaixo da mesa e esfregavam o rabo nas
nossas pernas. Os foguetes explodiam e os cachorros sumiam. O pobre de
um papagaio estava em estado de choque.

Não vi frescuras, fofocas e brigas. Todos estavam felizes, o casal
realmente se amava, e a mãe da noiva era de uma simplicidade que me
comovia. Tão cansada e tão satisfeita.

Fui embora quando o sol já se escondia e o último som que ouvi foi
dos capotes  espalhados por toda parte. “sô fraco, sô fraco, sô fraco,
sô fraco, sô fraco, sô fraco...
 SÉRGIO EMILIANO 

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