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sábado, 21 de maio de 2011

21 DE MAIO - DIA DA LÍNGUA NACIONAL


“LÍNGUA PORTUGUESA”

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela…
Amote assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Olavo Bilac (1865 – 1918)


21 de maio é o dia dedicado a homenagear a língua nacional. Língua nacional é aquela que se fala numa nação. Na nossa nação, o Brasil, como você sabe, essa é a língua portuguesa. Então, pode lhe parecer o caso de se perguntar, antes de mais nada: uma coisa tão banal quanto a língua que falamos, que utilizamos a todo instante, até em nossos pensamentos, merece mesmo uma homenagem? 


Para responder essa pergunta, é preciso ter em mente que uma língua não é, de jeito nenhum, algo tão banal quanto parece ser. A língua é um sistema de representação constituído por palavras e por regras que as combinam em frases, as quais os indivíduos de uma comunidade lingüística usam como principal meio de comunicação e de expressão, falado ou escrito.

Nesse sentido, a língua é abstrata como todos os conceitos. Ela só se torna concreta quando é usada por alguém no processo de comunicação. Isso ocorre toda vez que alguém fala ou escreve, de modo que o exemplo mais concreto que se pode oferecer agora é precisamente o texto que você está lendo. Ele foi escrito por alguém e para alguém com a finalidade de comunicar alguma coisa.
Quando você entende o que eu digo, isso significa que podemos trocar pensamentos. Manifestamos a língua própria de um povo e temos um meio de aprender o que ocorre a nossa volta.

Quando você fala e eu entendo podemos pensar e agir juntos. Podemos criar a cultura, fazer história ou construir nossa identidade. Percebe como nosso idioma mostra quem somos e aponta onde vivemos?

Hoje há um esforço para unificar o português falado no Brasil com o português falado em Portugal, nos vários países Africanos, na Ásia e na Oceania. Esta tarefa não é fácil pelas distâncias e localização geográfica. Você agora percebe porque é importante avaliar o dia da Língua Nacional nesse dia 21 de Maio? Ele refere-se a importância da língua falada por um povo de um determinado lugar, de um país.

 

COMUNIDADE LINGÜÍSTICA



Note que, nesses termos, isso poderia ter sido escrito em qualquer língua, se estivesse sendo escrito em qualquer outro país que não usa a língua portuguesa como meio de comunicação e expressão. E assim se revela a importância da expressão "comunidade lingüística" empregada na definição de língua. Toda língua é o meio de comunicação e expressão de um grupo de pessoas em particular, de uma comunidade específica, de um povo, de uma nação.

Isso deixa claro que há uma relação profunda entre uma língua e o povo que a fala. A língua é o meio de expressar a maneira pela qual esse povo - e nenhum outro - compreende o mundo, assim como é o meio através do qual esse mesmo povo se coloca no mundo. Portanto, a língua traduz a identidade de um povo, seu modo de ser e de estar.

O povo brasileiro se expressa por meio da língua portuguesa, aquela que os colonizadores portugueses trouxeram para nosso território, difundindo-a e fazendo-a tornar-se a forma de comunicação e expressão predominante por aqui. No entanto, a língua do povo brasileiro não é idêntica à do povo português.


LÍNGUA E HISTÓRIA



O português falado e escrito no Brasil recebeu a influência e a contribuição de diversas outras línguas, especialmente das diversas variações do tupi falado pela maioria das nações indígenas que aqui vivia antes da chegada do colonizador, bem como do idioma ioruba dos povos africanos jejes e nagôs que para cá foram trazidos como escravos. Trata-se de um longo processo que se estendeu ao longo de quase quatro séculos.

No entanto, não foram só as influências africanas e indígenas que ajudaram a moldar o português do Brasil. No século 19, nossa língua também foi influenciada pelo francês, que era falado pelas elites intelectuais do país. Já no início do século 20, vieram as contribuições dos imigrantes, em especial dos italianos, que se estabeleceram nas regiões Sudeste e Sul. Em matéria de línguas estrangeiras, é a influência do inglês que se faz sentir mais notadamente entre o fim do século passado e o atual.

A língua, portanto, é um fenômeno dinâmico, que está sempre evoluindo e se modificando. Desde as origens do português (e de todas as línguas) tem sido assim. A língua portuguesa originou-se do latim, o idioma que o Império Romano difundiu por todo o continente europeu por volta do século 3 a.C. E convém lembrar que esse latim já havia sido bastante influenciado pelo grego, uma vez que a civilização helênica tornou-se um modelo para Roma.


LÍNGUAS NEOLATINAS


De qualquer modo, à medida que se afastou do seu centro de difusão, Roma, e se espalhou pelo continente, o latim foi sofrendo modificações e influências de línguas locais e regionais e passando por transformações. As mudanças não decorriam somente de fatores geográficos, mas ainda históricos: a passagem do tempo também contribui para que uma língua se altere. E a alteração pode ser tanta, que ela acaba se tornando outra.

Com o latim essas transformações ocorreram devem ter ocorrido e se acelerado entre o fim do Império romano do Ocidente (século 4 d.C.) e a Idade Média. Deram origem às línguas neolatinas, grupo que abrange principalmente o espanhol,o francês, o italiano, o português e o romeno, mas também o galego, o catalão e o provençal.

A Língua Portuguesa é um idioma neolatino, ou seja, é derivada do latim. Sua história começa antes da Era Cristã, quando os romanos dominaram a Península Ibérica (que hoje são Portugal e Espanha) e impuseram seus padrões de vida e sua língua.

As várias etnias que lá existiam acabaram por se misturar ao latim falado pelos soldados romanos: o linguajar do povo, que não possuía forma escrita, um latim vulgar - ao contrário do latim erudito, mais rígido. Por não estar preso à forma escrita, o latim vulgar era mais variado e por isto não foi difícil surgirem os novos dialetos, frutos das diferentes combinações em cada região.

Além da dominação pelo Império Romano, a Península Ibérica também sofreu invasões de povos germânicos (os vândalos, suevos e visigodos), no século V da Era Cristã. Daí herdamos alguns vocábulos, a maioria ligada à área militar, tais como guerra, marechal, general. As invasões dos árabes no século VIII também contribuíram para a incorporação de novas palavras. Você sabia que geralmente as palavras começadas em 'al' têm origem árabe? São exemplos: alface, alfinete, álgebra, alfândega. Das que não começam em 'al': garrafa, quintal, xarope.

As influências germânica e árabe não foram tão intensas quanto a dos romanos e por isto as raízes latinas foram as que continuaram sustentando a cultura da península. A região que hoje ocupa Portugal se destacou do restante da península no ano de 1143, quando foi declarada a independência da Nação Portuguesa, com o idioma galego-português. No sul, predominava o português, e, no norte, o galego. Esta parte foi anexada pelo povo castelhano alguns anos depois e, em 1290, o idioma português foi declarado oficial na Nação Portuguesa.

O português desenvolveu-se na península Ibérica. Diferenciou-se do que viria a ser o espanhol no século 9, quando o Condado Portucalense se desmembrou dos reinos de Leão e Castela, num processo que originou, respectivamente, Portugal e a Espanha. A língua portuguesa dessa época - o português arcaico - ainda diferia bastante da que falamos hoje.


GRAMÁTICA E ACORDO ORTOGRÁFICO


 

Somente por volta do século 16, o português ganhou sua forma "atual", encontrando sua maior expressão escrita em "Os Lusíadas", poema épico de Luís de Camões, que se transformou na principal referência para o estabelecimento de uma gramática da Língua Portuguesa. Por gramática, pode-se entender o conjunto de normas que determinam o uso de uma língua de modo a uniformizá-la, a torná-la comum e compreensível para todos os que a têm como língua materna.

 

Essa idéia de uniformização da Língua Portuguesa ganha um especial destaque no ano de 2008, quando se concluiu o Acordo Ortográfico que pretende padronizar e unificar o modo de se escrever as palavras do português nos países em que hoje ele é falado.

 

No presente, além de Portugal e do Brasil, o português é a língua nacional de Angola, Cabo Verde, Giné Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, e Timor Leste. Trata-se da quinta língua mais falada no mundo contemporâneo. Ela é um patrimônio comum a mais de 200 milhões de falantes no mundo inteiro.

 

 

 

A idéia que está por trás do Acordo Ortográfico é a de que qualquer falante da língua, independentemente do país de que provém, possa se entender com os outros falantes do português em qualquer país onde ele é a língua nacional.

 

VARIAÇÕES DA LÍNGUA PORTUGUESA

 

Variações da língua portuguesa no Brasil

A língua oficial do nosso país é a Língua Portuguesa, imposta pelos colonizadores portugueses quando chegaram à costa brasileira. Aqui já se falavam vários dialetos indígenas, porém a maioria foi extinta para dar lugar ao idioma português. Se você leu com atenção sobre o Dia do Índio, vai lembrar que, dos 1.300 dialetos falados pelas diversas tribos indígenas em 1500, só persistem hoje cerca de 180. 

Mesmo tendo adotado o idioma de seu colonizador, o Brasil possui modos de escrever e de falar que foram surgindo e caracterizando nosso povo com o passar do tempo. A Língua Portuguesa aqui é bem diferente da que encontramos em Portugal, além das variações que encontramos de região para região dentro do nosso país. Isso tudo porque um idioma não é algo estático, parado no tempo. Se fosse, ainda estaríamos falando como em Portugal no século XVI, como tempos "d'antes"... Reparou como o poema de Fernando Pessoa mostra esta transformação? 

Nossa língua muda de acordo com a época e com os costumes. Mesmo em curtos espaços de tempo - pense numa propaganda, por exemplo, e perceba como certos slogans acrescentaram novas palavras e expressões. E os neologismos? Até o ministro Rogério Magri, da época do governo Collor, ninguém usava o termo imexível (por saberem que tal palavra não existia ou porque não gostavam de inovar?). Muita coisa mudou e, acredite, cada um de nós contribuiu para que assim fosse! 

Viu como temos várias línguas em torno da Língua Portuguesa? Tem o português de Portugal, o português do Brasil e suas inúmeras variações regionais. E ainda o português das outras colônias portuguesas (mas isto é outra história...). Não é tão complicado, porque, no final das contas, todas estão sujeitas às regras e formalidades do idioma, representadas pela Gramática da Língua Portuguesa.

"A língua é ou faz parte do aparelho ideológico, comunicativo e estético

da sociedade que a própria língua define e individualiza."

(Leonor Buescu)


MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA

A cidade de São Paulo, que abriga o maior número de falantes de português do planeta, possui uma das melhores atrações culturais do Brasil. Localizado no imponente prédio da Estação da Luz, no centro de cidade, o Museu da Língua Portuguesa consolidou-se como um dos mais visitados da América do Sul. Concebido pela Secretaria da Cultura Paulista em conjunto com a Fundação Roberto Marinho, este museu tem orçamento de cerca de 37 milhões de reais, equivalente a 14,5 milhões de euros.

A belíssima e majestosa Estação da Luz - SP
O objetivo do museu é criar um espaço vivo sobre a língua portuguesa, considerada como base da cultura do Brasil, onde seja possível causar surpresa aos visitantes com os aspectos inusitados e, muitas vezes, desconhecidos de sua língua materna. Segundo os organizadores do museu, “deseja-se que, no museu, o público tenha acesso a novos conhecimentos e reflexões, de maneira intensa e prazerosa”. O museu tem como alvo principal a média da população brasileira, composta de pessoas provenientes das mais variadas regiões e faixas sociais do país, mas que ainda não tiveram a oportunidade de obter uma ideia mais precisa e clara sobre as origens, a história e a evolução contínua da língua.


O acervo do museu, que conta a história da língua portuguesa, é exposto por meio de inúmeros recursos de interatividade e tecnologia. O local possui três andares e a visitação começa de cima para baixo, a partir do terceiro piso. Ao entrar no Museu, o visitante encontra a “Árvore da Língua”, uma escultura de 16 metros de altura que mostra nas raízes as palavras arcaicas que deram origem ao vocabulário português. Ainda no terceiro andar, está o Auditório onde é exibido um vídeo de aproximadamente 10 minutos que mostra a história do surgimento da Língua Portuguesa. O espaço conta com uma enorme tela de cerca de nove metros de largura.


Na Praça da Língua, é possível conhecer a riqueza do idioma e textos de clássicos da nossa literatura. O conteúdo é exibido por meio de sons, vídeos, imagens e textos projetados no chão e no teto. Em seguida, já no segundo andar, o visitante passa por uma enorme galeria onde são exibidos vários vídeos que mostram a presença do português no cotidiano do povo brasileiro. Seja na música, no futebol, no carnaval, nos meios de comunicação, a língua está sempre presente no dia a dia da sociedade. O ambiente possui uma tela de 106 metros de comprimento, que percorre todo o espaço do corredor.

O português falado no Brasil possui também uma diversidade de sotaques que variam entre as regiões do país. Num grande mapa interativo, o visitante pode selecionar um estado brasileiro e ouvir o modo de falar daquela região. 


O Museu também conta com a sala de totens interativos, nos quais as pessoas conhecem os outros idiomas que influenciaram no modo de falar do brasileiro. Os visitantes interagem com as línguas indígenas e africanas que influenciaram na criação de nosso vocabulário.

Exposições temporárias também são exibidas constantemente no primeiro andar do Museu. As mostras já homenagearam diversos escritores da literatura brasileira, como Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Machado de Assis, dentre outros artistas e temas.


O museu foi inaugurado no dia 20 de Março de 2006, com a presença do Ministro da Cultura e cantor Gilberto Gil, representando o Presidente brasileiro, da Ministra da Cultura de Portugal, Isabel Pires de Lima, do Governador paulista Geraldo Alckmin, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de António Carmona Rodrigues, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, do Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian e outras autoridades representativas, não apenas de Portugal  e do Brasil, mas de todos os países lusófonos.


Conhecer o Museu da Língua Portuguesa é uma oportunidade que cada brasileiro tem de se conhecer melhor e fortalecer os vínculos com a própria cultura.  
O FILÓSOFO

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