Países em desenvolvimento como o Brasil, a China e Índia devem ser pressionados a combater as mudanças climáticas da mesma maneira que os países desenvolvidos como a Grã-Bretanha e os Estados Unidos.
Essa é a opinião do cientista britânico James Lovelock, considerado um dos maiores especialistas em meio ambiente do mundo e criador da recente polêmica de que a energia nuclear seria a melhor forma de combater o aquecimento Global.
Lovelock também é autor da Teoria de Gaia, que considera o planeta Terra como um superorganismo, onde todas as reações químicas, físicas e biológicas estão interligadas e não podem ser analisadas separadamente. A teoria, que data dos anos 70, turbinou o movimento ambientalista em todo o mundo.
Na entrevista a seguir, exclusiva à BBC Brasil, Lovelock fala sobre protocolo de Kyoto, Amazônia e desmatamento, uso da energia nuclear como forma de combater o aquecimento global e a atual “gravíssima situação" na qual a Terra se encontra.
O trifólio, símbolo utilizado para indicar material radioativo.
O código Único de do símbolo é U+2622 (☢).
BBC Brasil: Como o senhor descrevia a situação do clima da Terra atualmente?
Lovelock: A situação é muito grave e está se acelerando. Podemos comparar a alguém que colocou fogo na casa com um palito de fósforo e, agora, os móveis começam a queimar. Se a gente não fizer logo algo, para controlar o fogo, toda a casa vai queimar.
BBC Brasil: O senhor defende já há algum tempo o uso da energia nuclear como a forma mais eficaz de se combater o aquecimento global. Por que a polêmica em torno desta proposta surgiu somente recentemente?
Lovelock: Acho que é porque as pessoas estão se dando conta da gravidade do problema somente agora.
BBC Brasil: Mas a energia nuclear é o único caminho?
Lovelock: Não, não é o único, mas não podemos ignorá-la. A energia nuclear é uma forma boa, limpa e segura de se gerar energia, e pode ser usada em larga escala. A energia na França é gerada quase que totalmente de fontes nucleares. A Finlândia está caminhando na mesma direção. Quase metade da energia da Suécia já é nuclear. Não há nada de errado com isso. Houve um acidente nuclear grave na Rússia, recentemente no japão, mas houve muitos acidentes graves na Rússia durante o período soviético.
BBC Brasil: Mas o senhor citou apenas os países ricos. E os países menos desenvolvidos, como o Brasil? Seria possível garantir a segurança de tantas usinas nucleares?
Lovelock: Eu não chamaria o Brasil de menos desenvolvido. A tecnologia nuclear no Brasil é muito boa e amplamente usada. Tenho certeza que o Brasil mantém suas usinas nucleares da mesma forma que qualquer país rico. A China, por exemplo, está investindo pesado na tecnologia nuclear, e construindo usinas o mais rápido possível.
BBC Brasil: O senhor disse que a energia nuclear é o método mais eficaz de combater o aquecimento global. Isso significa que os países devem abandonar o desenvolvimento de fontes de energia renováveis, como a solar e a eólica?
Lovelock: Acho que deveriam continuar a investir. É uma questão de bom senso e avaliação de possibilidades. Um país como a Suécia, por exemplo, gera metade de sua energia por hidrelétricas e metade por energia nuclear. Isso é bom. Os suecos estão fazendo tudo certo e têm sorte.
A Grã-Bretanha, por exemplo, não tem sol, apenas vento. E deveria investir na energia eólica. O Brasil, na solar. Cada país deve achar um ponto de equilíbrio, sendo pragmáticos e sempre considerando como opção a energia nuclear.
BBC Brasil: Mas a Grã-Bretanha está fechando usinas nucleares…
Lovelock: O governo não quer perder votos e muita gente acha que energia nuclear não representa segurança.
BBC Brasil: O senhor acha que o potencial de a tecnologia nuclear gerar bombas nucleares deveria fazer com que países que tivessem usinas fossem fiscalizados por agências como a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica)? O Brasil recentemente recusou a fiscalização completa de centros nucleares no país.
Lovelock: Essa é uma questão bastante difícil. Há Estados com intenções duvidosas, como a Coréia do Norte e talvez o Irã, que têm programas nucleares. Esses países deveriam ser checados, mas acho que esse não é o caso de nenhum país da América do Sul. Acho que, para evitar polêmica, todos oa países deveriam aceitar a presença de inspetores internacionais. Aqui na Grã-Bretanha, a gente já recebeu diversos inspetores em nossas usinas nucleares.
Mas o melhor de tudo é que as novas gerações de usinas nucleares que virão não serão capazes de produzir bombas nucleares, somente energia. Os modelos antigos de usinas nucleares são os que mais irão precisar de inspeção.
BBC Brasil: Falando um pouco sobre o Protocolo de Kyoto (acordo internacional pelo qual os países desenvolvidos precisam reduzir a sua emissão de gases de efeito estufa). Os Estados Unidos se recusam a assinar o protocolo. O senhor acha que mesmo assim o protocolo é um mecanismo eficaz de combater as mudanças climáticas?
Lovelock: Estou bastante frustrado com Kyoto. Acho que o acordo não vai longe o suficiente para combater um problema tão sério. É um tipo de acordo que os políticos adoram, porque dá ao público a impressão de que estão fazendo alguma coisa quando, na verdade, eles apenas estão ganhando tempo.
BBC Brasil: Qual seria a alternativa que envolveria mais países em um acordo como Kyoto?
Lovelock: Honestamente, eu não sei, é muito difícil. Não sou político, só sei que alguma coisa deve ser feita rapidamente. Eu acho que o primeiro de tudo é fazer os políticos acreditarem que o mundo está realmente em perigo e a emissão de gases de efeito estufa deve ser contida.
BBC Brasil: Os países em desenvolvimento, mesmo os altos emissores de C02 como o Brasil, a China e a Índia, não são obrigados a cumprir as metas de Kyoto. O senhor acha que é possível salvar o clima somente com esforços dos países desenvolvidos?
Lovelock: É absolutamente indispensável a inclusão desses países em qualquer acordo internacional de combate às mudanças climáticas. A China e a Índia estão atrás somente dos Estados Unidos nas emissões de gases de efeito estufa. Se esses países não foram estimulados a diminuir as suas emissões, de nada adiantarão políticas para conter o efeito estufa.
BBC Brasil: Mas esses países estão crescendo, as atividades industrial está aumentando, as pessoas estão consumindo mais energia. Será fácil convencê-los de que mudanças são necessárias?
Lovelock: Na verdade, o fato desses países estarem crescendo é uma vantagem. É mais difícil um país como os Estado Unidos mudar a sua matriz energética do que países que ainda podem investir em fontes diferentes. A China, a Índia e o Brasil têm capacidade tecnológica de investir em fontes mais limpas.
BBC Brasil: O Brasil é o país do mundo que mais promove o desmatamento. O senhor vê o Brasil como um inimigo do clima do planeta?
Lovelock: O Brasil é, acima de tudo, um inimigo de si mesmo porque se continuar a desmatar suas florestas, o clima vai mudar no país mais do que em qualquer outro lugar.
Por outro lado, no caso da Amazônia, a situação ainda é mais grave. Se os países continuarem a emitir gases de efeito estufa na mesma proporção que estão agora, a temperatura vai aumentar e a floresta vai mudar, de qualquer jeito. O Brasil deve se envolver localmente e internacionalmente pelo bem da Amazônia.
BBC Brasil: Qual é a previsão para a Amazônia caso a temperatura média do planeta aumente nos próximos anos?
Lovelock: Se a temperatura média do planeta aumentar em 4ºC, a floresta não terá como se sustentar. A água vai evaporar muito rápido, muitas espécies morrerão. A floresta se tornará um lixo.
"Se a temperatura média do planeta aumentar em 4ºC, a floresta Amazônica se tornará um lixo".
Isto significa um aumento da temperatura do planeta de quase 7 (sete) vezez e a sustentabilidade vai ficar muito dificil. Espero que se faça algo em favor do clima da terra, ou será o fim.
"Para evitar polêmica, todos os países deveriam aceitar a presença de inspetores nucleares internacionais".
O FILÓSOFO
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